Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Andei até ontem com esta dúvida existencial: faço ou não faço as avaliações dos miúdos a quem dou aulas? Elas são-me exigidas pela empresa que não me paga, os professores das turmas não fizeram referência às mesmas nenhuma vez.
Faço ou não faço? E aindei nisto 15 dias.
Ontem, decidi-me. Os putos não têm culpa, os pais gostam de feedback, se as não fizesse eu é que passava por teacher preguiçosa e incompetente.
Assim, ontem, lá estive eu até à uma da madrugada a pôr cruzinhas em quatro turmas.
Não fiz avaliações qualitativas, não escrevi nada, pus cruzinhas. Os putos merecem avaliação (pelo menos alguns), mas a empresa não merece nada.
Tenho dito.
Primeiro, a Gr., depois a Mr. e agora o M., a mim um pouco: uma gastroenterite que não nos larga.
A Mr. amanhã já vai à escola. Já não tem diarreia e não voltou a ter febre.
A Gr. tem chorado quando a deixo na escola e hoje passou a tarde toda a chorar, de acordo com a auxiliar que estava na sala, quando a fui buscar (chuif).
O M. corre para a casa de banho de dez em dez minutos e eu cá me vou aguentando.
A Mr. passou estes dias em casa agarrada à televisão. Tivemos momentos de muito chamego e de muita birra. Salvaram-me os meus pais, que vieram na segunda feira e regressaram hoje às serranias.
Graças a eles pude fazer mais coisas, para além de cuidar de uma miúda adoentada e mimada.
O aniversário da Gr., ontem, passou a correr, com o pai a correr para a casa de banho, um jantar simples e a aniversariante a pedir caminha desde as nove da noite. Felizmente, achou graça ao apagar da vela. Quando a deitei, precisou de dez minutos para adormecer.
Faz dois anos que a miúda mais pequena cá de casa viu a luz.
Faz dois anos que a minha vida se tornou mais cheia.
Faz dois anos. A Gr.
- "Mãe, oia. "
- "Diz, Gr."
- "A Maía é fixe."
Gosto do pai porque ele faz-me cócegas e faz brincadeiras.
Porque me dá chocolate quando acabo de comer.
Deixa-me fazer coisas que eu pido.
É bonito.
Gosto de pintar com o pai e de brincar com ele no parque.
Gosto dele a ler histórias porque é assim: senta-se, abre o livro na 1ª página e faz vozes.
E agora quero continuar a ver o noddy.
Para a posteridade.
Ao contrário da mãe, que, porque não permitiu que andasse de gatas em cima de um muro, é uma chata.
Sim, é verdade, há aqui uma pontinha de ressentimento e ressabiamento, também....
Tanta coisa para fazer em casa, tanta coisa para resolver na escola e estou aqui, sem conseguir fazer nada de jeito, com as duas pirralhas.
A Mr. passou o domingo com diarreia e à noite teve febre, acordou muito murcha e dormiu até às 10.30. Agora anda aqui aos pinotes e já estou arrependida de ter pedido que me substituissem na escola.
Não quero ser mal interpretada, é melhor fazer aqui uma anotação sobre o facto de estar contente porque a miúda está boa.
Percebe-se que ela também está satisfeita por estar em casa. Ontem, deitada no sofá, vira-se para a Gr. e diz: sai daqui que agora sou eu que estou doente e a minha é mais grave que a tua.
A Gr. está a voltar à sua velha forma: passou a manhã a pedir comida (bacha, iete, ogute, shopinha), lanchou bem na escola e em casa, a partir das 7 da tarde, não parou de pedir comida, comeu sopa, agoz, e peixinho (era carne, mas para ela só há peixe no vocabulário).
Era suposto irmos a casa da R. e do R. conversar um bocadinho, mas assim que saiu da cadeira começou a pedir caminha e lá foi.
A Mr. ontem chegou a casa febril, queixando-se de dores de barriga. Como acordou bem disposta e com vontade de ir à natação, chegámos à conclusão de que foi um ataque de ciúmes que teve efeitos psicossomáticos.
Tem adormecido num instante, na nossa cama: deito-me com ela e fico um bocadinho a ler, ela não pára (de acordo com o acordo esta perde o acento, estupidez pegada!) quieta, apago a luz e em dez minutos adormece, levamo-la para a cama e fica até de manhã.
Qaundo venho no carro, a caminho da escola para levar as duas para casa, a minha cabeça fervilha. Imagino coisas para fazer com elas, coisas fixes e divertidas para passarmos tempo de qualidade juntas.
Assim que entramos no carro, a Mr. começa a pedir coisas como chocolate, para ver dvs que já viu umas cem vezes, para ir brincar com a vizinha que tem sempre tpcs para fazer e não pode brincar, para encher a banheira de água.... enfim, coisas que geralmente não pode fazer. E como geralmente leva nega trás de nega, começa a choradeira. A Gr., que parece um papagaio, repete tudo e lá se vão as minhas boas intenções pelo cano abaixo! Grito, chateio-me, castigo, passo-me e isto continua pela noite dentro, porque as refeições são um filme de ameaças, joguinhos, faz de conta, para a rapariga comer alguma coisa de jeito.
E dou comigo a desejar que vão a cama o mais depressa possível, para eu ter um pouco de sossego, e, ao mesmo tempo, lamentando este desejo e o não ter aproveitado os momentos em que estamos juntas!
No dia seguinte, a história repete-se.
Assim se vive esta vida.
A empresa comunicou, via coordenadora local, que o município tem estado incontactável (é a câmara que avança com o dinheiro), pelo que esperam conseguir pagar salários a partir de abril. Esperam, não garantem, não têm a certeza. Têm a certeza de que não pagam a quem não entregar relatórios e avaliações, mas não têm a certeza se a partir de abril nos podem começar a pagar salários.
Os professores que fazem? nada, ou enviam para a empresa poemas sobre a dignidade dos professores, chamando a atenção para a necessidade que estes têm de comer e meter combustível nos carros.
De quem é a culpa? da câmara, que pelos vistos e de acordo com um professor de música, não paga mesmo às empresas, ou das empresas que não têm um fundo de maneio para prever estas situações, dos agrupamentos que estão-se marimbando para a forma como os professores das AECs são contratados, dos próprios professores (eu incluída), porque não se mexem?
Não sei.
Será normal uma criança de dois anos pedir para ir para a cama às 11 da manhã e adormecer, depois de dormir onze horas seguidinhas durante a noite?
A Gr. está tão molezinha.... mete pena. Não sei o que é normal numa pós gastroenterite....
Estou a dar aulas desde o dia 6 de janeiro. Estamos a 13 de março.
A empresa exige um relatório, onde entre uma série de coisas, tenho de fazer referência ao meu relacionamento com alunos, enc. de educação, metodologias, resultados, integração da aprendizagem da actividade com a comunidade escolar (que raio de coisa pretendem com isto?), ritmo de aprendizagem, etc etc, um sem fim de itens.
A empresa diz que não paga o mês referente à entrega destes relatórios se os mesmos não forem entregues.
Isto já era mau se a empresa estivesse a pagar, dado que estava a recusar pagar por um serviço que já está realizado.
Isto é pior tendo em conta que não está a pagar de todo!
Porque a Gr. passou estes dois últimos dias a recusar comida e bebida, porque sujava fralda atrás de fralda, porque se deitava em todo o lado e só queria "cóinho", na noite passada, domingo, chamámos cá a casa um médico, usando um seguro da Deco, que já deu imenso jeito. Ainda que o médico que nos calhou na rifa fosse assim para o tipo estranho, aconselhou-nos a ir às urgências, porque já havia sinais de desidratação, como nós temíamos.
Fomos, a Gr. passou lá a noite a soro com o pai e eu vim para casa. Era muito lindo e materno da minha parte dizer que passei a noite toda inquieta e sem dormir, mas assim que pousei a cabeça na almofada apaguei.
Estou acima de tudo, para além de preocupada, cansada.
Estou confiante de que a rapariga vem para casa, depois de ter ficado a soro, para hidratar. Agora estou a fazer horas para ir levar os testes dos alunos do M. Afinal, a vida lá fora continua e esta é uma época de avaliações.
Receio adormecer a qualquer momentooozzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.