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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Ontem foi dia de comemorarmos. Fizemos anos de casados.
Depois de um dia nornal, com o stress de ter a Gr. adoentada, a borrar fralda atrás de fralda e a deitar-se em todo o lado, olhámos um para o outro e dissemos: não me apetece fazer nada!
Estamos há várias noites sem dormir convenientemente (mas também, quem é que depois de ser pai e mãe dorme convenientemente? só aqueles cocós que sa fartam de dizer coisas como ai os meus filhos nunca me deram uma má noite, e coisas que tal, morram todos) e o que mais nos apetecia era enfiar um pijama e ir dormir.
Apesar disso, uma vez que os babysitters tinham chegado especialmente para a ocasião, lá nos enfiámos no quarto, para nos apipizarmos.
Depois de me vestir, olhei-me ao espelho e comentei: eh pá, até pareço uma mulher! E parecia mesmo, o gajo é que escusava de o ter reforçado, de olhos arregalados, como se nunca me tivesse visto à frente.
Saímos, ligámos a um colega do M. que conhece os hot spots, indicou-nos um e lá fomos. Estava cheio (e olha agora o cliché dos últimos tempos: onde é que anda a crise?).
Depois de alguma hesitação, fomos a outro sítio e por lá ficámos até perto da meia-noite, numa conversa boa, regada a um bom vinho (mais ou menos) e acompanhada de uma boa comida, sem interrupções para levar crianças ao wc ou mudar fraldas.
Ainda deu para ir beber um copo, só os dois, num chamego que há muito não acontecia.
Quando chegámos a casa, aterrámos na cama, para estarmos acordados novamente às duas, altura em que passámos a ser três na cama e onde fomos dormitando até às sete, quando a outra caramela se juntou à festa.
Back to reality. Quem nos dera conseguir introduzir mais noites destas na nossa.
Vou fazer uma cena lamechas para o M.
Para comemorar os 5 anos de casamento amanhã. Não consigo lembrar-me de músicas de amor que não sejam pimba! Deem uma ajudinha. Top 5 músicas de amor! Bora lá!
Sim, eu sei é difícil!
Preciso mesmo. Preciso que me deem um murro nas trombas que me ajude a perceber que a minha vida não é merda nenhuma não senhora!
Que tenho uma casa, dinheiro que, se comermos mais atum e salsichas e se o M. der concertos e vender cenas no miau, chega quase até ao fim, duas filhas giras e saudáveis a crescer, um marido, que tirando a questão da nulidade doméstica, é um amor, que é mesmo o amor da minha vida.
Só precisava de uma férias, longe da casa e das filhas para dormir umas noites descansadas, e de um trabalho que me desse o mínimo de gozo e fosse pago. Só isso.
Ou então, que esta noite a gr. me deixasse dormir. Mas isso, se calhar, já é pedir demais.
Definitivamente, não fui talhada para dar aulas a miúdos. Não tenho paciência para repetir mil vezes a mesma coisa, para ter de explicar duzentas vezes que é para fazer com lápis e não com caneta ou o contrário, para dizer que não, não pode ser com caneta de brilhos, que estejam calados e escutem, que têm de esperar que eu acabe de falar, que é na página 20, que é para pintar com lápis de cor ou caneta de feltro, que também pode ser com lápis de cera se não tiverem nenhum dos outros, que eu arranjo se não tiverem nada de nada, que não, não podem ir à casa de banho durante a aula, não tenho paciência para ouvir que o dente do primo da tia caiu, ou que o cão do tio fez cocó no chão da sala.
Mas acima de tudo, não lido bem com o facto de ter um pinchavelho a dizer-me que não, não faz o que mando, porque eu não mando nele, e não poder mandar-lhe um estalo, que era o que o pestinha merecia, se não levo com a mãezinha, mais o agrupamento e os adeptos das ciências ocultas, perdão, da pedagogia em cima!
Hoje recomeço as corridas!
Mãe ficou em casa todo o dia com o rebento mais novo, doente, murcha, a dormitar e a acordar chorosa.
(Mãe assim como assim não recebe, para quê ir trabalhar?)
Mãe com problemas gasosos passeia-se pela casa. Rebento mais novo, sentada na cama, muito séria, ouvindo sinfonia da mãe, diz: tchina, mãe muito cócó.
No regresso a casa, dentro do carro, chamo a atenção da Mr. para um grande camião TIR que nos ultrapassa. - Olha, Mr., que camião tão grande!
- Pois é! Os camiões são todos iguais?
- Não, há de vários tamanhos. Olha, aqui vai outro mais pequeno.
- Então, este é o pai, aquele é o filho e o outro que vai ali é a mãe, a camiona.
Como se chamará a avó camião?
Este domingo, partimos a loiça toda! Gostava muito de dizer que foi porque andámos aí feitos malucos, numa diversão sem fim, mas foi mesmo porque partimos uma data de coisas para um dia só.
De manhã um prato, à tarde uma chávena e um copo.
Fizemos bolachinhas para a Mr. levar para a escola, para angariar dinheiro para os autocarros que os levam à praia em junho.
Andámos no parque de estacionamento vazio do centro comercial da esquina, a "voar", fomos procurar as ovelhas, mas era quase noite e já se tinham recolhido.
Parece-me que a miúda mais pequena está a ficar doente: está aqui ao pé de mim, primeiro sentada no meu colo e agora deitada e tapada com metade da manta que me cobre os joelhos.
Parece que fizemos imensas coisas, no entanto passei mais tempo na cozinha do que nas noutras partes da casa!
Tenho de ir pôr as gajas, perdão, as miúdas a dormir, mas não me apetece. Tenho o corpo e o cérebro dormente, culpa do planura que deixaste cá em casa.
A Gr. está deitada aqui no sofá ao meu lado e murmura umas coisas que nem eu decifro. Levanta-se e volta a aninhar-se no sofá. O corpo já deve pedir cama, mas ela ainda não mo pediu a mim.
A Mr. está no escritório, com o pai. Essa nunca pede cama. Por ela, é ramboia até perder a consciência e cair para o lado.
E eu, escrevo. Nada de jeito, eu sei.
Há alturas do mês em que as minhas rotinas e o facto de as fazer sozinha me incomodam e pesam tanto, que chego a ter vontade de sair porta fora, e voltar muito tempo depois.
Há alturas em que o desejo de ser livre e independente, de poder ir, sozinha, à minha vida, sem dar satisfações a ninguém é gritante.
Alturas em que não me apetece mudar fraldas, fazer sopas, limpar rabos, arrumar e limpar casas. Alturas em que me revolto com o facto de fazer a maior parte das coisas sozinha.
E depois, por cima de o mal estar que já sinto, acumula-se o outro, o de saber que ninguém tem culpa das escolhas que fiz, ou do que a vida me deu, muito menos as minhas filhas.
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