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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Há um número muito grande de pessoas que não ficaram colocadas no concurso anual de professores. De acordo com o Min. da Educação, nem todos são professores, são apenas candidatos.
O homem tem razão, se eu termino o curso de medicina, mas depois nunca exerci a atividade eu não posso dizer que sou médico.
O problema é que, no meio deste número de pessoas candidatas a professores que nunca ou quase nunca foram colocados, há uma parte muito grande que nunca deixou de dar aulas, que tem prática letiva efetiva. É insultuoso para mim, e acredito que para todos os que estão na minha situação, virem dizer na comunicação social que eu não sou professora! Eu sou professora! Eu dou aulas há DEZ anos! Só que, por via do sistema, só duas vezes é que fiquei colocada.
De acordo com a lógica do ministério, eu não sou professora, os que estão afetos a escolas profissionais não públicas e que trabalham a recibos verdes há anos, não são professores, os que são profissionais das AECs não são professores, os que dão formação não são professores, os que dão horas e horas de explicações porque não conseguem mais nada não são professores.
E eu digo: são, pôrra! sao!
Só que não estão colocados! Andam de um lado para o outro, trabalham onde podem e no que aparece, recebem mal e tardiamente, são maltratados, mas estão lá, com os meninos. Não me venham dizer que eu não sou professora!
Primeiro, foi a mais velha que, enquanto comia uma feijoada de potas, afirmou alto e bom som que gostava do feijão e das putas.
Depois, ontem, enquanto fazia o jantar, a mais nova entra na cozinha e diz: mãe, puta.
Alto lá, pensei eu, a miúda não está a insultar-me, o vocábulo não anda cá por casa nem nos círculos que frequentamos (pelo menos quando há crianças à vista e já há algum tempo que não vamos ao norte). O que é que ela quer? E a miúda repetia: mãe, puta, puta.
Olhei para ela de alto a baixo e descobri: queria que lhe apertasse o atacador da sapatilha. Puta era "aperta".
Deixo as miúdas na escola e chego a casa decidida a fazer uma série de coisas.
À medida que estou a meio de uma tarefa já estou a enumerar as que posso fazer a seguir. Quando acabar de arrumar esta roupa vou organizar as gavetas das miúdas e depois, claro, tenho de levar a roupa que não serve para o sótão e se calhar até dava uma arrumação àquilo.
Ou na cozinha, depois de arrumar a loiça tenho de ver se descubro de onde vem este cheiro, que deve vir aqui de baixo e tenho de tirar tudo e vou pensando no que fazer para o jantar e podia fazer uma lasanha de peixe, apetece-me peixe. Eh pá, uma lasanha dá uma trabalheira e tinha de ir às compras ao pingo doce e levantar dinheiro, pôrra lá para o pingo doce.
E depois penso, caraças porque estou a arrumar se daqui a pouco vou estar a pôr tudo em pantanas para cozinhar e para que é que vou arrumar gavetas se a Gr. desarruma tudo em cinco segundos? e sou invadida pela preguiça, pela letargia, pela inércia e limito-me a arrumar a cozinha a fazer as camas e o básico e pronto.
Aos dois anos e meio, a caminho dos três, a Mr. andava demasido envolvida na sua vida, no seu mundo de brincadeira e de faz de conta. A chegada da irmã mais nova foi vivida assim com alguma indiferença: era uma coisinha que se agarrava às mamas da mãe, que ocupava a mãe, que a certa altura começou a gatinhar e a andar pela casa, mas que não incomodava.
Depois, o ser gatinhante e caminhante começou a falar e a andar atrás da irmã, a "roubar-lhe" os brinquedos, a fazer gracinhas cada vez com mais graça e, imagine-se, a dizer coisas que faziam os pais rir às gargalhadas e a indiferença teve de dar lugar ao reconhecimento da existência de um ser que pode ser competição em tudo. Graças a esse ser caminhante e exigente de atenção, a Mr. já teve de mostrar as garras, marcar território e tal valeu-lhe umas sapatadas no rabo ou nas mãos. A Mr. não sabe (claro, é tão novinha e pequena) como essas sapatadas custaram aos pais, que sabiam exatamente como seriam interpretadas pela Mr, mas sabiam também que há limites que é preciso marcar.
Agora, a Mr. é um poço de ciúme. O colo que damos à Gr, os mimos, a ajuda nas tarefas diárias, tudo tem de ser medido e dividido. Damos com a Mr. escondida atrás de cortinas porque, quando acordou, espreitou a cozinha e viu o pai a fazer cócegas à Gr, que acordou mais cedo.
Amua quando sente que a irmã está a ter mais atenção do que ela e, caramba, reconheçamos, a irmã tem mais atenção do que ela. Precisa de ajuda para muitas coisas que a Mr. já faz autonomamente e, para além disso, exige sem pudores a atenção que a Mr tem pudor em exigir, preferindo as cortinas. Como dar a volta a isto?
A única preocupação do nosso estado é tramar os trafulhas, impedir a vigarice.
Por isso é que, de acordo com a nova proposta de lei, os trabalhadores que estiverem de baixa por mais de um mês perdem o subsídio e as férias. Como se TODA a gente que mete baixa mais de um mês fosse um caloeteiro, preguiçoso que quer ficar em casa na cama, em vez de contribuir para o aumento do PIB.
Quem mete baixa por mais de um mês, de acordo com a minha experiência, terá um problema de saúde grave. Para o estado não. Como se não bastasse estar gravemente doente, ainda terá de ir trabalhar na mesma ou ficar sem receber.
É mais uma daquelas medidas feitas a retalho, desenquadradas, com o objetivo único de reduzir as despesas, reduzindo as pessoas a merda.
Poder estar ao sol numa esplanada a fazer nada antes de ir buscar as miúdas,
poder dormir de tarde,
poder não fazer nada se assim me apetecer, ainda que haja coisas para fazer (chão para aspirar, roupa para apanhar, etc.),
poder vir aqui mandar bitataites.
Agora vou dormir. A roupa pode esperar.
Ontem, liguei aos meus pais. Cheia de preguiça, estendi-me na cama e fui falando.
A certa altura, já não sei se o pai ou se a mãe, pergunta se estou bem. Respondi que só estava cansada e por isso deitada.
Pergunta imediata: apanhaste a bebedeira ontem?
Nem sei que mais escreva.
Ah, é de mim ou o Seguro precisava de aconselhamento capilar? Aquilo é cabelo que se apresente?
O M. hoje faz anos.
O M. é o amor da minha vida, por muitas razões.
A maior é a forma como dança, como agita as ancas e dá ao rabo, o que me faz rir até às lágrimas.
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