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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Não, não ando a ler o livro pornográfico.
Foi durante uma aula de inglês, após a leitura de um texto sobre mitologia grega (mito do Minotauro). Uma aluna tenta chegar a uma conclusão sobre as figuras do mito: "Mas ó stôra, o rei Minos era bom ou era mau? É que não consigo perceber! E o Minotauro?"
Uma aula de inglês quase se transformava numa análise psicológica de figuras míticas com milhares de anos e numa lição de filosofia sobre o que é ser bom e ser mau, ética, moral e etc.
Fiquei a pensar se também eu era assim, com dificuldades em ver o cinzento, sempre à procura do preto e do branco. Quanto mais velha fico, mais dificuldades tenho para me lembrar e mais difícil é "partilhar" estes estados de alma, dúvidas e inquietações dos adolescentes meus alunos.
Eu devia ter percebido que o facto dela estar a anunciar aos quatro ventos "mããããeeeee, estou a brincaaaaar!" era sinal de que estava era a fazer grande asneira.
Este fim de semana foi passado no norte, sozinha.
Estreámos a peça que andávamos a ensaiar desde junho (eu, com poucos ensaios in loco, mas com alguns em casa, com a ajuda de amigos como a Rita e a Small) e correu bem.
Tive direito a duas noites (duas, caraças!) sem filhas e descubro que já não sei dormir. Ou se calhar, para dormir é preciso treino, que eu perdi.
Tive direito a estar só, comigo, e descubro que já não sei estar só tanto tempo, porque senti continuamente que me faltava algo (eu sei, cliché) e estava sempre a ouvir as miúdas.
Custou-me não ter ninguém próximo de mim a assistir à peça, mas, sobretudo, custou-me faltar à festa de natal das miúdas, onde as duas cantaram com o pai e "tocaram" guitarra (a Gr.) e bateria (a Mr.). Custou-me!
Chego a casa, à noite levo com birra atrás de birra. Deve ser um fenómeno semelhante ao dos bebés que passam muito bem o dia na creche e, depois, quando a mãe chega, desatam a berrar. Deve ser, assumo. Mas custa, arre!
Eu juro que queria ser uma gaja capaz de traçar objetivos de vida e de agarrar a vida pelos cornos, em vez de estar sentada na bancada a ver a vida passar ou a ver a vida fazer de mim o que quer, em vez de ser eu a fazer pela vida.
Eu juro que gostava de chegar a casa depois de deixar as miúdas na escola e fazer todas as coisas que pelo caminho decidi que ia fazer, para depois ter tempo de fazer coisas verdadeiramente importantes.
Eu juro que gostava de aproveitar sempre os momentos com as miúdas sem estar a pensar no que poderia estar a fazer se não tivesse filhos e fraldas para mudar.
Eu juro que gostava de ser como a mulher do blog dias de uma princesa.
Mas depois, ponho em causa o que é a vida, quem manda no quê, questiono-me sobre o que é importante fazer e deixar de fazer (posso pôr a roupa a lavar depois, posso arrumar a mesa daqui a pouco...), meto a barriga para a frente, pego nas coisas e saio para o trabalho, de onde saio às 7.30 e venho para casa, onde as tarefas domésticas se me impõem numa ordem previamente definida e faço de conta que vivo, até à manhã seguinte.
Manda a boa educação e o civismo que se agradeça quando alguém nos cede a passagem à saída de um parque de estacionamento.
Idem no que toca à cedência de passagem a um carro que, estando a sair de um estacionamento, já se encontra no meio da estrada. É de muita má educação e atentado à segurança rodoviária fazer de conta que esse carro não existe.
Quer-me parecer que os senhores e senhoras da Batalha e arredores não estavam presentes quando foi feita a distribuição de boa educação e cidadania.
Subscrevo-me com consideração,
Gabriela
Houve regueifa e carne assada e vinho bom, houve pudim e maçã assada. Houve café e sesta. Houve pai e mãe em doses dobradas e triplicadas.
Houve ensaio de peça que estreia no domingo que vem, com perucas e vestimentas de fazer rir às lágrimas.
Houve mimo e calor.
Hoje, já em casa, está frio, desarrumado e sujo.
Deve ser para aprender a dar valor ao que é bom.
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