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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Não me lembro de os meus pais brincarem comigo.
Lembro-me vagamente de brincar com "tachinhos", onde fazia sopa de erva e lama, de subir e descer vezes sem conta o descampado em frente à minha casa, que por acaso ia dar ao castelo (quem teve a sorte de crescer com um castelo como cenário levante a mão), com outros miúdos e miúdas, de passar o dia fora de casa e regressar para abastecer, vulgo comer.
Lembro-me de me fechar no quarto e improvisar uma sala de aulas, onde eu era a professora de almofadas e bancos, que se portavam muito mal.
Lembro-me dos jogos de aróquei (um jogo inventado pelo meu irmão mais velho, que nos ocupou as tardes todas durante meses). Fazíamos campeonatos com direito a taça e assim destruímos os rodapés do quarto deles (das canetas bic improvisámos mini sticks, com os quais, sempre de joelhos, tínhamos de meter um berlinde em balizas improvisadas, nas pontas do quarto). Rasgámos calças e joelhos, mas divertimo-nos muito.
Este post não é, como parece à primeira vista, um post nostálgico sobre a infância perdida.
É sobre a forma obcecada como nos forçamos a passar tempo com os nossos filhos, em nome do seu crescimento saudável.
Os meus pais nunca, que eu me lembre, brincaram comigo ou com os meus irmãos. Deixaram-nos brincar sozinhos, uns com os outros, com outras crianças e, sobretudo, deram-nos espaço e tempo para brincarmos.
Às vezes, estou a fazer qualquer coisa da minha vida como mulher ou como profissional ou como dona de casa (sim, eu sou isso tudo, não é maravilhoso?) e a minha consciência rebate, lembro-me de algo que tenha lido sobre a importância dos pais nas brincadeiras dos filhos e forço-me a entrar nas brincadeiras delas ou sou eu que sugiro uma brincadeira para as três.
Depois, ganho juízo, lembro-me que cresci bem e saudável e deixo-as brincar sozinhas. Até deixo que batam uma na outra, imaginem!
Disse adeus à Gina, que me permitiu descobrir a prostituta que há em mim (teatralmente, acrescento, não vão pensar outras coisas, que nós nunca sabemos como vão interpretar o que a gente escreve e já estou a ver o meu pai a pegar no telemóvel para me admoestar, "rapariga, não podes escrever coisas destas, tem cuidado...")
Afinal, tirando as prostitutas e excetuando no carnaval, quem de nós pode vestir-se como uma prostituta várias vezes?
Adeus botas tigresa com 20cms de tacão, adeus corpete cor de rosa e leggins "vrilhantes".
Acima de tudo, adeus peça que me fez rebolar no chão de tanto rir.
(N.A. - é iluminador....)
Obrigada pelo bife, pelo arroz maravilhoso, pela garrafa de Bordeaux, pelos abraços sólidos.
Obrigada.
Anda aí um combate entre pessoas com filhos e pessoas sem filhos?
Não dei conta!
Ela é uma late bloomer e eu agradeço. Só ontem descobriu verdadeiramente a "violetta"...
Agora, em vez de a ouvirmos fazer de conta que canta em inglês (sanarana sanaran oohh sorou sorei, ooohhh), ela faz de conta que canta em espanhol.
A mais velha, conhecida aqui por Mr., hoje quis ir sozinha do carro ao portão da escola. - "Ah, o gui (o puto que daqui a uns anos poderá ser vítima de bullying, graças ao seu ar um bocadinho nerd) já vai sozinho para o portão. Posso ir?"
Vai lá.
Fiquei de olho para a ver atravessar a estrada (o gui não atravessa, pois não? ah? a mãe pára o carro do lado da escola...)
E vi-a entrar sozinha, acho que muito satisfeita, que sou míope e vejo mal ao longe!
Admirável mundo novo que aí vem. Tendo em conta que ela já se veste sozinha, já prepara o leite sozinha (com meia tonelada de chocolate, mas a gente perdoa, que é de manhã e eles precisam de energia), mais umas semanitas e já a posso deixar ir por aí abaixo, sozinha para a escola.
Vai ser uma maravilha! Poderei dormir até às 9.30. dado que a mais nova pode entrar no infantário até às 10h!
Ai! um pequeno passo para a rapariga, um grande passo para prolongar as minhas noites!
"No inverno do ano passado choveu, choveu, choveu....
este ano chove, está sol, chove, está frio, está calor... chove, não chove...
Este tempo não anda nada normal!"
Dizia a Mr. um destes dias, no regresso a casa.
Se até ela, lá do alto dos seus sete anos feitos em agosto, já percebeu que há uma coisa chamada alterações climáticas, quanto tempo demorarão os tipos que todos os anos participam nas conferências?
Eu não queria escrever sobre isto. Afinal, a dor não é minha. Eu não conhecia a Ana de conhecer a sério. Conhecia a Ana de estar sentada com ela e com mais pessoas na mesma mesa de uma esplanada, conhecia a Ana de termos pessoas e amigas em comum, conhecia-a de passarmos nos mesmos locais e sorrirmos uma para a outra e trocar palavras circunstanciais. Sabia de algumas coisas que se passavam na sua vida por intermédio da R. e da M. e sabia que a Ana sabia de coisas da minha por intermédio da R. e da M. e por intermédio do blog.
Tal como disse, eu não queria escrever sobre isto, porque a dor não é minha, não sinto legitimidade para o fazer, não como as pessoas que a conheciam de facto e a amavam.
No entanto, no fundo, no fundo, a dor de saber que ela morreu também é um bocadinho minha. Porque só isso explica o meu coração apertado desde domingo.
Talvez seja uma dor fruto do medo desta aparente arbitrariedade de que a vida está cheia, esta incompreensão perante o "estarmos vivos agora e no minuto a seguir estarmos mortos", mas não deixa de ser uma dor pela Ana e pelas pessoas que a perderam.
- Então, Mr, como é que se chamam os dentes?
- Não me lembro bem... caninos...
- Sim, caninos, in....
- Incisivos!
- Sim e os outros?
- Não me lembro...
- Mo......(dito "muuuuuu").....
- Mutantes!!
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