Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Sabes, M., hoje decidi usar luvas para limpar a nossa casa de banho. Sabes, as minhas mãos estão tão mal tratadas que hoje olhei para elas e pensei: é melhor pôr luvas...
E pus as luvas.
Depois, sabes, olhei para a casa de banho e decidi começar por limpar o pó, antes de aspirar. Tinha as luvas postas, a porcaria das luvas, que sendo tamanho M me ficam a boiar, mas sabes, não havia S quando as comprei, acabei por trazer o M, mesmo sabendo que eram capazes de me ficar um bocadinho grandes. E ficam, grandes, as putas das luvas.
Estava a limpar o pó e uma merda muito grande aconteceu.
Deixei cair o frasco de Sculpture. Em segundos na minha cabeça, conjugaram-se todos os palavrões mais feios do mundo e ainda tive tempo de ensaiar uma oração inteira, por favor não te partas, por favor perfume que ofereci ao M. no natal e que ainda está cheiinho, por favor frasco de 200ml não te partas!
Mas partiu-se, em caquinhos de vários tamanhos e o teu cheiro inundou a casa de banho.
O que é que eu havia de fazer? Chorar? Não, caramba, há tanta desgraça a acontecer no mundo e eu não choro por dá cá aquela palha (por acaso choro, mas nesta situação não chorei).
Que havia eu de fazer? Olha, disse mentalmente muitos palavrões, muitos mesmos, enquanto continuava a limpar.
E agora, sabes? a nossa casa de banho cheira tão bem que acho que me vou fechar lá dentro e não saio mais hoje.
Não gosto de dias cinzentos.
Não sou fã de dias cinzentos.
Os dias cinzentos são-me desagradáveis.
Os dias cinzentos não me aprazem.
Não aprecio dias cinzentos.
Detesto dias cinzentos.
Não posso tomar café na varanda.
É difícil fazer o jantar, preparar fruta e cenouras para as miúdas, pôr a mesa, tirar a loiça da máquina, brincar com a mais nova e estar no facebook, tudo ao mesmo tempo.
Naqueles dias, fazíamos assim: eu levantava-me, tomava banho ou lavava a cara e os dentes, às vezes ficava até mais tarde na cama e só tinha mesmo tempo de lavar a cara, vestia-me e ia para a cozinha, preparar o pequeno-almoço. No inverno fazia um frio de gemer e no verão, abrindo-se a persiana, a cozinha era inundada de uma luz amarela ou cinzenta, conforme o tempo que fazia lá fora. Mas no inverno era fria. Eu ligava o termoventilador e fazia o meu pequeno-almoço, que ia engolindo à medida que preparava os restantes. Na altura, o que me apetecia era sentar-me à mesa e com calma beber o meu leite com café e comer a minha torrada, mas quais torradas, não havia tempo, era mesmo só um bocadinho de pão com manteiga...
Depois, levava o leite com chocolate à Mr. e preparava o nestum da Gr. Nem sei porque é que ligava o termoventilador, agora que penso nisso. Acabavam as duas por tomar o leite no quarto, enfim...
Depois, depois... ah! sim, depois preparava-lhes as roupas. Eu sei, seria mais inteligente prepará-las de véspera, mas não era isso que me consumia mais tempo. Pois, preparava as roupas e ajudava-as a vestirem-se. A Mr. demoooooravaaaa muito teeeemmmmpooo a vestir-se e depois nunca queria a roupa que eu lhe dava, tinham de ser saias ou vestidos ou léguinhos, como dizia a Gr. E para a pentear? senhores, que tormento!
A Gr. deixava-me vesti-la, mas também tinha de ser sempre léguinhos!
Quando elas já estavam vestidas e penteadas, mandava-as lavar os dentes e eu ia acabar de me arranjar, punha um bocado de creme na cara, perfume e ala para a garagem.
Eram assim umas manhãs meio parvas, em que toda eu era stress, com medo de chegar atrasada à escola da Mr., ansiosa por ir tomar o meu café, com calma, pensando que não queria ir para casa sozinha e ficar o dia todo sozinha e o frio, jesus, o frio no inverno naquela casa! Era assim uma coisa estranha: por um lado, queria muito aquele momento do dia em que me ficava com a chávena quente de café na mão, a pensar no que podia fazer, mas depois saber que voltava para casa... não me apetecia... ficava ali, a inventar coisas que era preciso comprar, a adiar a hora de voltar.
Preciso de me lembrar disto, de não me esquecer, porque tenho muitas saudades delas assim pequeninas, a Gr. a deixar-me pegar nela ao colo, tão grande, mas tão meu bebé, a Mr. a rezingar, porque me estás a puxar o cabelo, pára! o M. a vir dar-me um beijinho e um abraço perfumado, que bem que ele cheirava, caramba, às vezes ainda sinto o cheiro dele, e dão-me umas tonturas que acho que vou morrer, mas estamos em 2070 e o teste que fiz no facebook dizia que eu só morro em 2073, portanto ainda me faltam 3 anos.
Mr.- Mãe, porque é que nunca, nunca usas vestidos? Porque é que só usas calças e calças e sapatilhas...?
Mãe - Mas eu uso vestidos e saias e calções, no verão, eu uso!
Na descrição que lhe pedi, para treinar o texto descritivo, descreveu-me como gostando de camisolas quentes e sapatilhas.
Provavelmente, a minha mais velha está farta de ver a mãe vestida de jovem e deseja vê-la vestida de mãe.
A mãe ainda se sente uma jovem, apesar dos seus 37, e vai aproveitando a onda de que os 30 são os novos 20, continuando a vestir-se como há 15 anos (vá lá que as docmartens já estão arrumadas).
Ai que Leiria é tão féxion! Já tem uma nutellaria! Caturra!
É assim um corredor com um balcão ao fundo, onde as pessoas fazem fila para comer coisas com nutella.
Venham cá a casa, que pagam menos e podem sentar-se.
Ao pequeno-almoço:
Gr. - "pai, se a Mr. fosse um sumo eu bebia-a. Se ela fosse uma piscina eu megulhava nela."
Deve ser isto ter uma irmã.
Realizar-se-a um workshop de frequencia obrigatoria para os maridos desta casa. O objetivo e aprender a por a loica na maquina. A inscricao e gratis e nao e preciso material.
Entre o último post e o dia de hoje, tenho andado com questões existenciais.
O post do dia 21 foi escrito de rajada, a publicação idem aspas (às vezes, escrevemos e deixamos o post a marinar, para isso servem os rascunhos, outras vezes, sem pensar em nada, naturalmente postamos e está feito. Assim aconteceu com o último).
Entretanto, sem saber muito bem como continuar, comecei também a pensar (em conjunto com os meus provedores de serviço) como reagiria a Gr., daqui a uns anos, face à exposição de questões que são dela.
Uma coisa é eu vir aqui e escrever, para a posteridade, uma palermice qualquer sobre um par de botas, outra é eu escrever que bebi meia garrafa de vinho, ainda que tal não tenha verdadeiramente acontecido e outra mais séria ainda é eu expôr assuntos que dizem respeito às pessoas que mais amo, as quais atualmente não têm consciência de quase nada (bem aventuradas!), mas que daqui a uns anos vão ter.
Estou, então, no meio de um debate interno: por um lado queria muito falar sobre a forma como fomos lidando com um problema, como forma de catarse, por outro tenho receio de expor assim a vida da minha filha e de todos nós, de forma tão óbvia.
Já o fiz de outras vezes, é certo, mas sinto, não sei porquê, que esta exposição seria mais séria que as outras.
Portanto, enquanto não decido como dou continuação a esta série de posts, se dou ou não, fiquem com esta: parece que as botas alentejanas estão na moda e à conta disso e de ter escrito tantas vezes botas alentejanas neste sítio, o blog anda com uma média de mais de cem visitas.
Fiquem também a saber que eu sou uma visionária, porque já com os meus 19 anos eu andava de botas alentejanas, pumba mais uma visualização!
A Gr. é uma miúda meiga, que gosta de dar beijinhos assim do nada, que adora ouvir que gostamos dela e faz assim um ar entre o comprometido, embaraçado e o deliciado, com a cabeça para baixo que me deixa perdida de amores.
Há cerca de ano e meio, saímos de uma consulta de psicologia do desenvolvimento com o coração aos pulos.
A Gr. recusava ir para a escola, a educadora começou a puxar mais por ela, para que ela se envolvesse com o grupo e participasse nas atividades conjuntas e chegou à conclusão de que havia ali um bloqueio qualquer. Começámos por pensar que seria apenas uma inadaptação à escola, mas achávamos estranho.
A educadora, atenta e também preocupada, perguntou-nos o que achávamos da ideia de ela ser observada em sala por uma psicóloga que já há alguns anos colaborava com a escola. Concordámos e aguardámos a dita observação.
O que nos comunicaram então não foi propriamente novidade: a Gr. era uma criança um "bocadinho" anti-social.
Brincava muito bem sozinha, fazia os seus jogos sozinha e, nos momentos de grupo, ficava, não só calada, mas também alheada do que estava a passar-se e esse alheamento era voluntário.
Em casa, era frequente vê-la a brincar sozinha, mesmo quando havia amigos, mas tínhamos aquela secreta esperança de que na escola a coisa fosse diferente.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.