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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Não sei se é crónico, ainda não me esforcei o suficiente para chegar a uma conclusão fidedigna, mas não consigo fazer balanços, olhar pra trás e analisar o que foi ou não foi este ano que termina. Não sei fazer balanços. Fique o disclaimer: o meu 2016 não foi um monte de merda.
No dia 25 de manhã, vi um daqueles ramos da minha árvore genealógica no facebook de alguém. Eram muitos. A minha tia aninhas teve sete filhos que, por sua vez, se reproduziram de forma generosa. O meu primo mais velho daquele ramo só não é avô porque a sua filha mais velha é uma mulher independente a quem não conheço namorada ou namorado.
Adiante, na foto vi moços grandes de barbas grandes que não conheci. De regresso de outro ramo genealógico passei na tia aninhas. Deixei as miúdas no carro e fui tocar à campainha. A porta abriu-se diretamente para a forografia que eu tinha visto de manhã. Estavam todos no mesmo lugar e acho que não faltava ninguém. As várias mesas alinhadas em retângulo davam a volta à sala. E lá estavam eles a jogar cartas, a comer frutos secos, alguns agarrados ao telemóvel, outros no sofá em amena cavaqueira.
Dos moços grandes de barba, reconheci todos exceto um que não via desde criança de fralda.
As minhas primas rodeadas dos filhos, que estão a caminho de terem filhos e a minha tia, na ponta da mesa, perto da porta que dá acesso à cozinha, olhou para mim e vi-lhe nos olhos um baita orgulho de matriarca, daquelas dignas de um romance de Gabriel Garcia Marquez.
Tenho para mim que foi depois de as tias começarem a ser avós.
As tias foram avós e foram passar os natais com os filhos e os netos.
As casas foram-se esvaziando, as famílias divididas pelos novos ramos da árvore genealógica.
Foi aí que deixei de achar piada ao natal.
Natal é casa cheia, pratos e copos num vai e vem constante, crianças em grandes correrias, adultos em número suficiente para poder diversificar conversas, para partilhar as arrumações.
Natal pequenino não me cheira a natal.
(eu sei, nunca estou contente)
Às vezes, vou dar umas espreitadelas a alguns instagrams de pessoas mais ou menos famosas. Fioo sempre com a ideia de que vivemos em países diferentes. Eu estou aqui encolhidinha de frio e com os pés gelados como pedras, esse pessoal passeia-se de t-shirt e calção por essas ruas fora. O natal foi o costume, já agora.
Festas. Este ano não há musiquinha.
Antes de irmos levar as miúdas a meio do caminho entre a nossa casa e a casa dos meus pais, onde elas estão agora, fizemos uma das atividades do calendário: escrever palavras que tivessem especial significado para cada um de nós e colocar os papeis na árvore de natal.
As miúdas escreveram "amor" (Mr.) e "família" (Gr., escreveu-a sozinha, que orgulho!), o M. escreveu "paz" e eu escrevi "paciência", algo que me faz imensa falta.
A "paciência" é o único papel que está constantemente a cair do raio da árvore!
Sejamos positivos: os outros não.
Se as pessoas de Leiria não existissem tinham de ser inventadas.
O despertador do M. toca, à hora do costume. Filho da mãe, esqueceu-se de alterar as definições.
Fico ali deitada, digo ao corpo e ao cérebro que posso continuar a dormir, posso.
O cérebro vai buscar as avaliações, que terei de imprimir ou mandar imprimir, fica ali a ruminar naquilo, o meu corpo diz-me que não quer dormir mais, mas eu quero e deixo-me ficar. Acho que fico mais um bocadinho num limbo e quando me sinto desperta outra vez tenho de me levantar porque agora é a bexiga que me chateia. Volto a deitar-me, mas as avaliações voltam ao ataque.
Levanto-me difinitivamente, cerca das 9h e vou para a cozinha. Tomo um pequeno-almoço rápido, pão velho torrado e uma chávena de água suja de café. Não há leite sem lactose, já sei de que daqui a meia-hora vou estar cheia de fome!
Vou para a sala e sento-me ao computador. O trabalho é constantemente interrompido por mails, de colegas, de titulares, do coordenador... é tudo novo, andamos todos a apalpar terreno, tanta documentação e dúvidas sobre preenchimentos, finalidades... às 10 o M. aparece, tira-me um café e desaparece para as suas cenas, fora de casa.
Às 11 faço uma pausa. Levo o telemóvel para a casa de banho, ponho uma mix de indie/pop rock a tocar no youtube e tomo banho. Ao som de The killers danço pelo quarto em cuecas, admiro os meus abdominais (são fixes, muito fixes), abano o rabo (não é assim tão fixe). Visto-me e danço mais um bocado.
Decido continuar a pausa, mas entretanto recebo mais mails com instruções novas. Tenho de refazer algumas coisas. Cago na cena. Vou ao Lidl. Faltam-me algumas coisas em casa, leite sem lactose, por exemplo.
Isto de não as ter em casa é, realmente, uma bitter sweet symphony.
A Mr. teve hoje o seu primeiro espetáculo de ripi rópi (hip hop). Andava nervosa, a miúda. "E se me engano, se me engano? tanta gente a ver... que vergonha!"
A miúda não foi perfeita, não é uma dançarina inata, mas vê-la em palco a divertir-se, sobretudo isso, divertir-se em cima do palco de uma associação recreativa, fez-me vir lágrimas aos olhos (tpm, you bitch).
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