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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Eu vi o arroz no frigorífico e pensei: boa! Não preciso de fazer nada para acompanhar o salmão.
Depois, fechei o frigorífico, pus louça suja na máquina. Quando dei por mim, já tinha esparquete a cozer.
Isto deve ter um nome científico.
Gosto tanto das receitas do casal mistério.
Aquela coisa do "só vai precisar..." e a gente prepara-se para ler três ou quatro ingredientes, mas afinal saem-se com "fruta pão, figo da índia, tâmaras medjol ou lá o que é, aveia liofilizada, manga de Moçambique, tomilho limão, abacate dos Açores, folhinhas de hortelã rosa e sei lá mais o quê", coroado por um magnífico " se quiser saber as quantidades vá ao sítio e depois o link para a página onde está a receita original, geralmente inglesa ou americana, com as quantidades em pounds ou outra medida qualquer, que aquela malta é alérgica aos kilos e aos gramas .
Irrito-me com aquela anormal que faz a rotunda na faixa de fora, com o outro estúpido que estacionou no meio de dois lugares e também com o parvo que foi ali ao banco e parou o carro à frente do meu. Depois, lembro-me daquelas cenas que prometi a mim mesma: caga nisso, caga nisso, irrita-te menos, escolhe as cenas que merecem real irritação, poupa-te.
E fico irritada comigo.
Sinto que isto de uma pessoa planear surpresas para a cara metade, sejam grandiosas, sejam surpresas pequeninas, à medida da disponibilidade financeira e emocional (sim, porque é preciso disponibilidade emocional para fazer coisas, para uma pessoa se mexer e conseguir fazer coisas), é meio caminho andado para a malta se manter apaixonada.
Apaixonada pela cara metade e pela vida, ou melhor, pelas pequenas coisas que fazem a vida de todos os dias.
Sábado foi um dia bom.
A praga...
Este é o homem com quem casei.
Um animal no palco, em frente ao microfone, com uma tusa enorme pelo que faz.
Este é o homem com quem casei. O homem que se entrega, apesar dos medos e das ansiedades, que dá tudo de si, de forma conscenciosa e ao mesmo tempo exuberante.
Este é o homem com quem casei, que é na vida de todos os dias o que é no palco.
Parabéns, hombre, pelos 41 anos de vida.
Corre para aqui para levar uma, corre para ali para ir buscar outra,
espera aqui enquanto aquela não chega, pára um bocado acolá,
vai ali ao supermercado e esvazia a carteira, lá se foi o dinheiro que levantaste para pagar aquela outra cena,
carrega os sacos para a mala, chega a correr, despeja as malas, toma lá banho, faz lá os tpc,
um bocadinho de tv, sim, pode ser, bora lá para a mesa,
já aí vou para conversarmos, vá, toca a ir para a cama,
bora lá acordar, engole o leite, já te penteaste, vamos,
deixa uma aqui, espera pela hora desta entrar, ai que já vou chegar atrasada, mete gasóleo, vamos lá outra vez,
é preciso pão e acabaram-se os iogurtes,
estaciona aqui e espera por esta, agora vamos ali ver se os manuais já chegaram, ups mais uma nota que sai,
vamos que a tua irmã já saiu, faço panquecas quando chegarmos, sim,
despeja o malote, anda cá, vai ali, está na hora da cama outra vez.
Ouço-a daqui, no carro, a soprar no trompete. O trompete esteve parado este mês, saindo do caixa uma vez ou outra para tocar magnetic zeros e uma outra coisa que ela ouvia no rádio.
Vai continuar com o instrumento emprestado pelo orfeão, lá chegará o dia em que terá o seu próprio.
O sexto ano chegou de comboio à estação e já partiu.
O sexto da Mr e o terceiro da Gr.
Não há como os parar.
Às vezes queria...
Não comi um único figo...
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