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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Passa o dia a assobiar. Está a fazer trabalhos de casa, assobia.
Lê, assobia.
Arruma as coisas dela, assobia.
E canta, canta, está sempre a cantar. As porcarias da rádio comercial e também algumas coisas fixes da antena 3.
Há bocado, no carro, as duas repetiam, feitas doidas, o spot de entrada da rubrica da Ana Markl "os audiogésicos da dra. Ana Correia" e riam-se. Ficaram a saber quem é o Júlio Isidro e acabaram por me chamar velha.
Não sei se tenho TPM ou TMP (tensão menstrual permanente).
Sentava-me, à frente porque sou baixinha (era assim que me chamavam, a baixinha, exceto naquela semana em que decidiram chamar-me cabidela porque rimava com gabriela) e bastava-me estar atenta à aula, ao que os professores diziam, escrever os apontamentos no caderno e pronto, chegava ao teste e sabia as respostas.
Hoje, eles sentam-se, tomam notas e apontamentos, mas a atenção da maior parte está em parte incerta. E, mesmo que esteja lá, na sala de aula com o professor, chegam a casa e ainda têm de dar às canetas e estudar para conseguirem acompanhar a quantidade incrível de merda que têm de saber, de colar com cuspo para darem respostas nos testes dos quais se vão esquecer assim que sairem da sala.
E têm de o fazer depois de estarem na escola desde as 8.30 da manhã às 17h. A miudagem aqui da Batalha com sorte tem apenas uma tarde livre.
Eu bem gostaria que a minha miúda estudasse mais, ela precisa de estudar mais, mas que pôrra! o dia não tem mais de 24 horas!
Saindo ela sai às 16.30 todos os dias, exceto à quarta, tem meia horita para lanchar, espairecer e já está agarrada outra vez aos livros, para fazer trabalhos de casa. Que moral tenho eu para a obrigar a estudar para além disto? Se ela já teve uma jornada de oito (oito horas, car"#$"#!) na escola?
Há dias em que fico tão revoltada com esta merda de sistema que nem vos conto. E o pior? É que eu sinto-me mal por não a obrigar a estudar! Porque depois vêm as notas medíocres ou as que estão abaixo das suas capacidades! Mas a culpa não é só dela.
E andam aí esses intelectuais de merda, políticos de gabinete que nunca puseram os pés numa sala de aula a vomitarem documentos com "aprendizagens essenciais" que na realidade não são nada, que nada produzem a não ser papel que nós imprimimos para ter nos dossiês, para a inspeção escolar ver.
Aprendizagens essenciais era saber ler, escrever e fazer contas de somar e subtrair, multiplicar e dividir, coisa que metade não sabe fazer e vai sair da escola sem saber. E vai continuar a estudar e a tirar cursos e depois vai trabalhar! pôrra!
É que dava conta que me tinham andado a mexer no carro.
Não está contente por ter escrito este pedaço de prosa
há uns valentes anos? Ah! diga lá! Fosse agora teria os Pans e os iras desta vida à perna, seria o próximo não assunto das redes sociais, onde seria vilipendiado e arrasado. Agora que penso nisso, nem sei se publique este post não vá alguém ter a ideia peregrina de iniciar uma petição para tirarem o livro do plano nacional de leitura. Mas como isto aqui é lido por vinte gatos pingados e metade vem cá pelos piolhos, olha, vai na mesma.
Para salvaguardar a hipótese de o post ser destacado (ahahahahahahahah), não digo qual é o livro. Olhem, estudassem, como diz o outro.
de cantos, da Mr.
Não pude ficar até ao fim.
Mãe, dei graças a deus tu não teres ficado. É que a professora depois pediu aos pais para fazerem um exercício de improvisação e se tu lá estivesses ia ser muito mau!
A senhora à minha frente na caixa perguntou se eu queria os pontos dela. Eu agradeci e disse que não, que já não tinha tempo de colecionar suficientes para comprar outro legume. A senhora então disse que tinha muitos pontos no carro. Saiu com as suas compras e voltou com um montinho de papelinhos dourados, que foi contando até perfazer 15, o número de pontos necessários para outro legume.
A Gr. estava delirante e eu também, porque tenho, vezes de mais, a impressão de que a humanidade está perdida para a falta de civismo e de empatia, de simpatia, mas depois há assim uns raios de sol (não que sejam raios de sol capazes de mudar o mundo, mas vá, capazes de me fazer acordar com algum otimismo).
Eu era o Dumbledore, num sofrimento excruciante, a despejar a bacia daquela poção amaldiçoada, para chegar ao horcrux.
Eu era o Dumbledore a engolir aquela mistela, só que a mistela não era uma poção amaldiçoada e objetivo não era encontrar o horcrux.
Fui bebendo litro atrás de litro e colocando a possibilidade de não fazer exames nenhuns, afinal eu não tinha nada, quase de certeza, para que é que eu estava a sujeitar-me àquilo, já chega, por favor, mais não, mas isto cresce no copo em vez de diminuir, juro que há bocado parecia menos, isto cresceu, mas e se tenho uma pocaria qualquer a crescer-me aqui no corpo e depois não sei, bebe mais, anda, um bocado mais, já chega.
E bebi quase tudo, juro, no último litro vomitei, se fosse o Dumbledore, coitado, lá se ia o horcrux, lá se ia a possibilidade de destruir o Voldemort, mas eu não sou o Dumbledore e bebi quase tudo e fui fazer o exame na mesma. E não tenho nada, ainda bem.
Sou pessoa ansiosa, nervosa, com tendência para alguma dramatização, respiro e inspiro muito com o único resultado de ficar com excesso de ar nos pulmões, e, às vezes, tonta de tanta oxigenação cerebral.
Ando sempre a correr, com medo de chegar atrasada a todo o lado, ainda que seja só ali ao virar da esquina.
Começo as manhãs a correr e acabo os dias a correr. Contagio quem está à minha volta e todos os anos, ao virar dos aniversários, e dos anos letivos e das passagens de ano, prometo que vou correr menos, que vou correr menos, mas quando dou por mim, cinco segundos depois, já estou a correr, se não com as pernas, com o cérebro. E contagio toda a gente em meu redor. Marido e filhas, a toque de caixa, gata a toque de caixa, tudo a toque de caixa. E ando cansada, mesmo com horário de trabalho pequenino, dou por mim a desejar, todos os dias, a hora em que me vou deitar. E essa hora tem chegado cada vez mais cedo. Lá pelas 22.30 os lençóis já me cheiram o cabelo e sentem os pés frios.
Mas, devagar, devagarinho, as inspirações oxigenantes, os dedos em posição de ohmmmmm, vão-me levando a alguma acalmia.
Já não corro todas as manhãs, só algumas, e já sou capaz de sorrir perante a lesmice das minhas filhas, sou até capaz de não ficar zangada e dizer até logo meu amor com um sorriso verdadeiro e não de alguém que passou a última hora a berrar, porque de facto, berrei menos.
Devagar, vou correndo menos. Pode ser que lá para os oitenta deixe mesmo de correr.
É fácil comprar prendas que me façam felizes, fácil e barato.
Livros: gostava de ler Djaimilia, os dois mais recentes; os baby blues e podem começar a investir também nos Zits. Os últimos do José Luis Peixoto, da Zadie Smith...
Música: gostava de ouvir o novo do Samuel Uria, o novo da Márcia...
Cenas para a casa: copos bonitos.
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