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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Há intervenções cirúrgicas que são feitas em série. Assim, tu chegas ao sítio, previamente marcado com dois dias de antecedência, fazem-te as perguntas da praxe (tem doenças? toma medicação? tem alergias?) e depois ala para o bloco.
E ficamos assim meio embascacados, sem saber se esperamos sentados, se vamos à nossa vida, afinal que é isto no meio do turbilhão de coisas que acontece todos os dias? nada, um grão de pólen no ar.
E tu vens, à tua vida e de vez em quando páras para pensar mas já nem avanças com o que te assoma à cabeça tanta gente que não acorda da anestesia, tanta merdinha que pode correr mal mas não vai correr, vai fazer as camas será que já saiu do bloco será que a porcaria da pedra foi à vida será que vai tudo correr bem afinal que é tirar uma pedra do rim comparado com um tumor com um acidente grave com um transplante de medula ou outro órgão nada nada.
Há nove anos, quando nasceste, o teu avô Zef escreveu assim:
À Guiomar
(para quando souber ler-me nos olhos)
Subo o monte nuvem pesada.
As borboletas descem,
leves, flores ligeiras:
sabem os sítios de crescer,
auroras aladas.
Guarda-nos flores.
(20 de Março, dia de flores, 2010)
Parabéns, Guiomar
O quarto delas era a ala dos tuberculosos - tosse e tosse e tosse.
O resto da casa a ala de nefrologia, com um marido agarrado aos rins. Dizem as más línguas que agora ele já sabe o que é dar à luz.
Serviço público: chá de alburno de tília selvagem parece que faz milagres.
Lá estamos nós: eu e o silêncio quebrado pela carripana que sobe a estrada ou pelo zumbido da mosca.
Está sol, mas um ventinho frio e cortante como uma faquinha de tirar caroços às azeitonas.
O café foi tomado com as meninas Rita e Júlia, ao som dos guinchinhos da segunda, depois de deixar duas filhas na escola, uma que partiu para uma visita de estudo e outra que rumou à sala do costume.
Estica-se a vontade de fazer zero até ser impossível, porque os deveres chamam.
Primeiro a constatação: olha, que estúpida, deixei ficar lá o dedo.... fechei a porta do carro e deixei lá o dedo. Aqueles dois segundos em que percebemos que não tirámos o dedo e ele ficou entalado na porta do carro.
Depois, mais dois segundos para o cérebro reagir e gritar "abre a merda da porta e tira daí o dedo, sua parva".
Mais uns milésimos de segundos passam enquanto abrimos a porta e, em simultâneo pensamos, isto vai doer tanto, caramba!
Tiramos o dedo e sentimos uma dor aguda e estonteante que cresce ao mesmo tempo que desejamos cortar aquela ponta que parvamente não saiu da porta antes de a fecharmos.
Ah! que belos dias vivemos.
Antes continuar sem máquina da roupa.
Uma pessoa chega aos quarenta e poucos (pouquinhos) e descobre que é aquela espécie de dona de casa desesperada, capaz de comer aquelas três filhas da mãe daquelas bolachas só para conseguir fechar o filho da mãe do tupperweare das bolachas!
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