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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
No sábado, a mais nova teve o primeiro sarau de ginástica acrobática. Esteve desde as quatro até às seis e meia enfiada num maillot lindo de morrer, toda ela elegante, linda de morrer, num pavilhão gelado como o Alaska.
A mais velha é que ficou constipada.
À minha volta, pessoas cheias de cancros. Dar graças por nenhuma delas ser meu pai, minha mãe, meus irmãos, filhas ou marido é uma ação egoísta? Falta de chá, insensibilidade? Escrever isto aqui piora as coisas? faz de mim uma besta?
É difícil falar/ escrever sobre estas coisas, no entanto, na verdade, é só quase esta questão que me ocupa os dias, se excluirmos o trabalho (os putos andam doidos) e as minhas miúdas (as miúdas andam doidas).
Por isso, calo-me.
Já desdecorei a árvore de natal, falta desmontá-la.
A luzinhas estavam todas enredadas e pensei seriamente na possibilidade de deitar fora os papelinhos amarelos que têm palavras escritas por cada um de nós, do segundo calendário do advento, se não estou em erro. Se pensei, melhor o fiz. Deitei-as fora. Agora que vejo isto escrito sinto-me uma besta.
Por falar em calendário do advento, as coisas andam tão más no que toca a convívio familiar que estou a pensar elaborar um calendário do carnaval, chamar-lhe-ia "carnis vale calendarium", aproveitavamos a onda e deixavamos de comer carne, ao mesmo tempo que fazíamos cenas todos juntos que não fossem só ver séries (maldita netflix).
Depois do jantar e da cozinha (mais ou menos) arrumada, conduzo-as para o meu quarto. Está quentinho. Levo três livros: o meu e um para cada uma delas. A Mr. está a ler a saga Harry Potter, vai no terceiro volume, para a Gr. escolho eu para facilitar a coisa e não haver dúvidas de que tem de ler um livro de gente grande (escolhe regra geral os livros da Bia e o unicórnio, que já leu ou um qualquer com mais imagem do que texto).
Sentamo-nos na cama e lemos. Eu agarro-me às intermitências da morte de Saramago, a mais velha aos dementors (salvo seja) e a mais nova a uma aventura no supermercado. Sou interrompida pela mais velha e pelos seus brados ai que isto é mesmo assustador, ai que mete mais medo do que os filmes e pela mais nova, à medida que vai encontrando palavras escrita na ortografia pré acordo e se espanta, como se fossem palavras novas e raras.
Aquela coisa que eu defendia de não obrigar os meus filhos a ler foi pelo cano da experiência maternal abaixo, aquela teoria do Pennac de que o verbo ler não tem imperativo foi pelo mesmo caminho.
No dia 23 de dezembro, no supermercado, quando eu disse ao marco que não tinha nada para ele desembrulhar, dado que tinha comprado dois bilhetes para Nick Cave, ele apontou para um livro do Bill Bryson e disse: quero este livro. Então, eu apontei para o novo do Tordo e disse: eu quero este.
No dia 24, à noite, trocámos as nossas "prendas".
No dia 30 de dezembro o marco comprou-me umas pantufas, que me ficavam a "chinelar". Vendo que me ficavam a "chinelar" pediu à sogra a caixa da costura e toca de as arranjar.
Nessa mesma noite partiu-me queijo fininho, como eu gosto.
Nem sempre há surpresas, mas fazemos por ter gentilezas que são como chávenas de café quente numa tarde fria de janeiro.
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