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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Primeiro li o livro. "Isto vai acontecer.... se não a mim, vai acontecer às minha filhas! Vai... " foi o pensamento que me acompanhou o tempo todo.
Umas semanas depois, tive curiosidade em saber como é que o texto tinha sido adaptado para série e vi o primeiro episódio. Que murro! Não quis ver mais. É sufocante, aflitivo.
Uns dias mais tarde, decidi trazer o Marco para dentro do universo e vimos o primeiro episódio juntos.
Ele quis continuar a ver e eu vi mais uns quantos. Noites mal dormidas, cheias de pesadelos, de horas insones...
Decidi parar. Ele queria ver mais, mas acabou por decidir parar também: No entanto, a curiosidade falou mais alto e voltámos. Vimos episódios de tarde, para tornar as noites mais fáceis, mas, às vezes, não aguentamos e lá vamos ver mais um após o jantar. Levamos quase sempre uns quantos murros no estômago.
Que pôrra de masoquistas somos.
Demorei um bocado a processar a informação... quando a processei, acabada de sair de três horas como suplente de uma vigilância de exames, a conduzir para casa, senti o coração a disparar.
Vinculei. Pensei. Significa que daqui a dois anos podem mandar-me para onde quiserem.
Eu sou isto, penso logo no pior. Mas o tempo também me deu a capacidade de procurar relativizar.
Para o ano tenho trabalho, para o ano tenho um horário completo (só não sei onde).
O resto, vê-se quando lá chegarmos.
Agora, é sacudir a sensação de que fizemos um pacto com o demo....
mas fazem de mim chata
se tenho de repetir várias vezes a mesma coisa...
se tenho de pedir o mesmo pedido três e quatro vezes...
se se acumulam tarefas porque não foram feitas quando pedi pela primeira vez...
"mas queres que arrume a mesa ou que vá pôr a roupa a lava? tu decide-te!"
"se a roupa tivesse ido para a máquina quando eu pedi.... "
à tarde, pouco antes de o teu caixão descer à terra, dois senhores estavam sentados nas cadeiras junto à porta. Tinham um ar solene, ali sentados, olhando em frente, na tua direção.
Perguntei quem eram e disseram-me que eram os dois senhores do café onde ias pela manhã tomar a tua bica.
Quando sairam, a mão de um deles levantou-se, num aceno breve, num adeus discreto, e eu achei aquilo bonito.
A minha tia do coração deixou-nos no dia 11 deste mês.
foi só um desperdício de duas horas, sentada numa cadeira, em frente a uma secretária de escola, a ver e a ouvir professores que se portam tão mal ou pior que os alunos de quem se queixam.
Ninguém ouve ninguém e toda a gente fala ao mesmo tempo.
Atrás de mim lia-se um livro, ao meu lado esquerdo folheavam-se papeis e ao direito viam-se vídeos no telemóvel, com som!!
Depois, dei conta de que tinha a minha camisa do avesso e senti necessidade de sair para a pôr do lado certo.
A casa de banho era para homens e mulheres.
mais um ano letivo
sobrevivemos
como vamos estar em setembro?
não sabemos
Há uma nuvem que me acompanha, ainda que as manhãs tenham acordado com sol
não lido nada bem com as incógnitas de fim de ano letivo (nem com outras)
Eu era a mais velha do público
os outros, todos mais novos, levantavam o telemóvel nas canções mais recentes enquanto eu apenas gingava o corpo
filmavam por cima das cabeças os bocados do concerto e abanavam os telemóveis
hoje toda a gente sabe "o que fizeste no verão passado"
no ano inteiro, toda a gente sabe o que fizeste e onde estiveste e com quem
eu era a mais velha no meio dos miúdos e, por desconhecer as mais recentes, mais velha me senti, ainda que as mais velhas tenham apenas dois anos
Não me sinto a envelhecer bem e não me sinto bem a envelhecer
e isso deixa-me lixada
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