Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Ontem, ou dias atrás, ter-te-ia espiralizado, com o corte de esparguete.
Hoje, agarras-me pela cintura, um bocadinho mais abaixo, e beijas-me o pescoço, respiras-me e olhas-me e eu perco a vontade de te espiralizar.
Começou quando regressávamos de Lisboa, aquando da minha consulta de ombro na Cuf, só os dois.
Cada um escolheu uma marca de camião, se passar a minha marca posso dar-te uma cacetada, se passar da tua, dás-me tu. Podia ter-nos dado para pior. Não é todos os dias que podemos bater no parceiro e não sermos acusados de vioolência doméstica.
Nessa noite eu fui scania e ele volvo. Ele bateu mais do que levou e agora, em viagens mais ou menos compridas, é o nosso jogo.
Que parvoíce! que grande parvoíce! Só que as parvoíces às vezes fazem-nos chegar a conclusões (igualmente parvas ou que não interessam a ninguém) engraçadas:
1º se pudermos bater no parceiro, só usamos um bocadinho de força se estivermos zangados por algum motivo e vai de aproveitar para descontar, mas não ousamos magoá-lo a sério. Não fomos feitos para isto de andar a espancar parceiros.
2º não havendo razões de queixa latentes, damos uma sacudidela no parceiro e até temos pena.
3º em determinadas zonas do país há mais volvos, noutras mais scanias, noutras mais renaults ou mercedes (eu avisei que as conclusões eram parvas)..
Faz hoje anos que estamos juntos, mas não vou fazer nenhuma declaração de amor aqui por escrito.
Não vou falar do quanto te amo porque todos os dias te mostro: quando me levanto e vou eu tratar do que tem de ser tratado, para tu dormires mais um bocado,
quando faço compras para as nossas refeições,
quando cozinho devagar e a pensar naquilo de que vocês mais gostam (há anos que não faço um arroz malandrinho),
quando me junto a ti na cama, depois de ir levar as miúdas à escola,
quando vou contigo a armazéns de segunda mão,
quando te levo snacks ao escritório,
quando te vou dar um beijinho,
quando te passo a mão no cabelo rapadinho,
quando te penteio as sobrancelhas,
quando te dou a mão na rua,
quando não me importo de tomar café cheio por causa daquele problema que nós sabemos de tu pedires sempre café curto (embora proteste),
quando te peço para comeres devagarinho,
quando obrigo a sair da cama mais cedo para aproveitares o dia,
quando te acordo das sestas (aí é porque também me amo e não quero aturar as tuas neuras de bebé dorminhoco que não dormiu o suficiente),
quando me deixo ficar em vez de ir para a cama,
quando....
O m. costuma ir para a cama depois de mim. Às vezes nem dou conta da sua chegada ao leito matrimonial, tal o meu estado de adormecimento.
No outro dia, levantou-se do sofá e largou o que estava a fazer, anunciando que ia para a cama porque estava cheio de sono. Eu fui também, sem estar cheia de sono.
Chegámos à cama, ele adormeceu. Eu... fiquei a olhar para o escuro, para o teto, que não via por estar escuro.
Arrependi-me de ter ido para a cama com ele, pois claro!
No sábado fazemos onze anos de casados.
Não temos babysitters de espécie alguma. Vamos fazer um jantar cá em casa e partilhar com alguns amigos a comemoração.
"Não!" disse-me alguém. "Vão jantar os dois, um jantar romântico..." e deixamos as miúdas em casa com uma fatia pizza e o cartoon network.... pensei eu. Talvez daqui a uns dois anos esse plano seja exequível. Para já, ficamos mesmo pelo romantismo de podermos estar com amigos na nossa casa, no mesmo dia em que faz anos que nos casámos.
Adivinho um chilli con carne ou algo assim rápido e bom, uma garrafas de tinto das quais não beberei, umas garrafas de espumante mais ou menos rasca, do qual não beberei, muita conversa e barulho.
É, este ano será assim.
O pai diz-lhes assim: ponham a loiça na máquina. E vira costas, já acendendo o seu cigarrinho gostoso pós refeição.
A mãe tenta não meter o bedelho e assiste àquilo a que não se pode chamar "pôr a loiça na máquina", será mais um "atirar a loiça para a máquina". Um dia, ponho aqui uma fotografia.
Depois, a mãe controla o ímpeto de mandar pai e filhas dar uma volta ao bilhar grande, respira fundo e enche-se de calma e paciência e tira tudo o que foi atirado para a máquina, para que as filhas voltem a pôr tudo como deve ser.
A mãe, das próximas vezes, vai virar costas e fumar um cigarrinho, deixando ao pai a tarefa de supervisionar o atiranço de loiça para a máquina.
E tenho os três, marido e filhas, a ouvir isto em altos berros:
e o marido a fazer caracóis às filhas com isto.
Vou aproveitar a onda e pedir-lhe que me pinte as unhas dos pés.
"na sexta janto com ex-colegas."
"no domingo janto com ex-alunos"
isto deve ser o prenúncio de para a semana janto com ex-namoradas.
Este texto será um desfiar de lugares comuns e se calhar até lhe junto, no fim, o Paulo de carvalho a cantar o "dez anoooosss é muito teeemmmmpo..."
Uma relação que queremos que funcione e que dure é uma viagem sem agência de viagens, é um reality show do género "survivor", com a diferença de que no reality show há um prazo para terminar - "uh uh! mais dois dias e isto acaba" - e uma relação não, se não queremos que ela acabe, se investimos.
A minha/nossa viagem faz dez anos, melhor dizendo, a segunda etapa faz dez anos. Lembras-te de que no ano passado dizíamos que íamos fazer um mega picnic "incontinente" - dizia eu, está bem - para celebrar e acabámos por não fazer nada? Não faz mal. De uma forma ou de outra, a marca dos dez anos não há-de passar incólume (tadinha).
São dez anos de uma viagem acidentada, a locais inóspitos, outros mais ou menos, e também a locais fabulosos, feita a dois e a três e a quatro, mas essencialmente a dois, que somos o comandante deste navio, o mestre de obras desta construção, o arquiteto da obra, etc.
Como dizia o sr. Moreira, ao apagar as velas, cada ano que passava "só peço mais um."
Parabéns a nós, porque o casamento pode ser fodido, mas nós temos feito do nosso uma cena muito boa.
Não sei se acontece com outros, mas o meu marido larga imenso cotão. Ou arranjo maneira de ele parar de largar cotão ou tenho de o substituir. Os vossos maridos também largam cotão?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.