Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Fala-se no desconfinamento, mas com um colega internado em estado grave, com turmas em casa, com a pré-primária fechada... como pensar, como falar em desconfinar?
Conta, Gabs, como têm sido os vossos dias, nestes tempos covidianos.
Não há muito que contar. Vamos trabalhar, voltamos para casa, vamos ao supermercado, onde gastamos o ordenado, nisso e em gasóleo, afinal, andamos sempre de um lado para o outro, numa de ir levar e buscar filhas, para além das viagens para o intestino delgado e seus (interstícios) de judas.
Esperamos que o descofinamento prossiga, sempre à espera que retroceda, à medida que os casos de covid voltam a aumentar e mantemo-nos por casa, execto nos fins de semana, ao domingo à tarde, quando vamos meter umas bolas nos cestos de basquete do novo espaço da vila.
As miúdas crescem, não gostam de comer nada do que vai à mesa à hora de almoço e jantar, mas entretanto comem tudo o que houver à vista (bolachas, pão, queijo, fiambre, cenouras, maçãs, ovos de chocolate que andam perdidos mas elas encontram, frutos secos). Crescem e a roupa deixa de servir porque não cabe ou porque não gostam (não gostam de nada, agora, pôrra!)
Entretanto, à conta desta constante expetativa do abre, não abre, podemos sair, não podemos sair, ainda não marquei cabeleireiro para nenhuma delas. E o cabelo delas bem precisa. Não compro roupa, nem online porque não acerto nos tamanhos, nem presencialmente que ainda se mantém tudo fechado.
Não é tudo uma merda, é verdade, mas lá que estamos cansados, estamos. Essencialmente porque não vemos um fim à vista e quando não vemos o fim à vista a modos que vamos perdendo esperança.
Então, foi bom tomar a vacina?
Tão bom como ser atropelada por um camião ou como apanhar uma tareia de um louco furioso.
O fim de semana foi doloroso. No sábado à tarde começou a moleza e uma certa dor de cabeça, à noite dores no corpo todo, mais dores de cabeça, que se prolongaram pelo domingo. Muita fadiga.
Hoje, segunda-feira à tarde, ainda sinto dores de cabeça e dores nas costas. Maravilha!
Estava tão focada nos efeitos marados da vacina, naqueles que incluem a morte, que só quando a Lis disse que ia também ser vacinada brevemente e que até parecia mentira é que parei para pensar no significado de ter tomado a primeira dose.
Tomei a primeira dose de um vacina que me vai tornar mais ou menos imune (setenta e tal por cento, segundo estudos americanos) ao vírus que vem parando o mundo desde finais de 2019.
Em junho, quando tomar a segunda dose, poderei deixar o medo de infetar alguém um bocado de lado, o medo de ser infetada também. Fixe, fixe é que toda a gente fosse entretanto também vacinada.
Que o ato de sair à rua voltasse um bocado ao normal, pré 2020, aquele sair à rua despreocupado, aquele estar próximo despreocupado, aquele abraço despreocupado, aquele sentar numa mesa livre de "deixa-me desinfetar isto antes".
Isso é que era fixe!
Amanhã levo a primeira dose de vacina para o SARS-CoV, da AstraZeneca. (versão editada, achava eu que era da Pfizer, era o meu subsconsciente a brincar comigo)
Que sera sera
whatever will be will be
the future is not ours to see
Há um ano, confinava. Mesmo a tempo de comprar a prenda de anos da Gr.
Há um ano, fechava tudo e os arco-íris faziam parelha com o covid, dois vírus a dar-me cabo do sistema nervoso.
Há um ano disse: para o ano já vais ter festa de anos, vais ver.
Agora, neste março de 2021, eles continuam confinados, mas eu volto à vida.
Não há festa de anos com amigos, os arco-íris foram à vida e lá vou eu voltar às máscaras e ao gel.
Eles em casa, eu no carro, nas viagens diárias para o intestino delgado de judas.
Deve haver uma forma de desligar o cérebro, sem desligar... para dormir... dormir a sério, sem estar a corrigir PDFs, a procurar materiais, a fazer planos semanais durante o sono, que não é, portanto, sono.
Estico-me no sofá e o cansaço quebra-me o corpo e a mente.
Chego à cama e há um interruptor que se acende! puft, vai-se o sono, e quando chega... é aquela porcaria de continuar a trabalhar... sempre podia ser produtivo e acontecer que aquilo que fizesse a dormir aparecesse feito lá nos meus trabalhos.... mas não....
Há semanas que não durmo a sério...
Já não sei falar e a paciência anda pelas ruas da amargura. Já estou por tudo. Deixem-me em paz.
Nos dias que correm, não tenho telemóvel...
a mais nova, assim que acaba as sessões síncronas, recebe chamadas no whatsapp ou faz ela chamadas e está tempos infinitos a falar com as amigas
vou conseguindo ver se recebi chamadas ou mensagens nos intervalos destas interações
à noite, após o jantar, quando os telemóveis lhes estão vedados, só quero estar sentada no sofá, com elas ou entregue a um livro
acho que essa é uma das razões porque este "fique em casa" está mais difícil, falta-me a conversa que fui tendo no ano passado
Levantar
pequeno-almoço
camas
roupa para apanhar e para estender
computador
almoço
arrumar cozinha
computador
vontade de mexer o corpo é igual a zero
tenho de olhar para o calendário várias vezes por dia para saber que dia é
só percebi que na terça era carnaval quando alguém disse amanhã é dia de carnaval
os dias passam todos iguais
os kilos devem andar a fazer uma festa aqui no meu corpo, que eu bem sinto
podia vir um bocadito mais de sol
este coiso de ficar em casa está mais difícil e chata do que o outro de há um ano
parece que o tempo não passa e olha, já passaram quase 365 dias
Sobrevivemos à primeira semana de escola em casa.
Quatro salas de aulas online, três espaços de trabalho, três computadores alternando com telemóveis sempre que necessário, manuais da mais nova, que é uma desorganizada, espalhados por todos os cantos, mas chegamos à sexta-feira à noite e tenho todos os planos de trabalho mais materiais agendados.
Está mais fácil por uma lado, mas mais difícil por outro. Mais fácil porque a máquina está mais ou menos oleada, não me preocupo com o que o super colega de trabalho faz (os vídeos, as apresentações, os googleforms e o c@r@.... ), faço o que posso, com o tempo que posso e seja o que for. Apanhei uma turma que no ano passado foi do super colega e, ao contrário do que pensava, os miúdos não sabem nada, nem falar, nem escrever o básico. Portanto é assumir que nem ando a fazer um trabalho mau. Há sempre vinho às refeições e um episódio de uma série qualquer para me levar bem disposta (relativamente) para a cama.
Por outro, mais difícil porque estamos cansados, porque chove e está frio, porque o céu cinzento é deprimente. Porque não podemos estar com ninguém excetuando nós os quatro, todos os dias, mais uma vez. Porque não vemos o fim à vista.
Num destes jantares comparei estes dois confinamentos a um parto de uma criança, à forma como uma mãe lida com a primeira vez que dá à luz, e depois como lida com a segunda vez. No primeiro confinamento não sabíamos o que nos esperava, tal como uma mãe que nunca pariu. Vai-se mais ou menos na boa, na expetativa de que vai correr bem, por isso ainda acreditávamos nos arco-íris. No segundo filho sabemos ao que vamos, já não há arco-íris para ninguém. Queremos é que acabe e pronto, mas esta merda nunca mais acaba e quando é que o bebé nasce, pôrra, tirem-no daqui, depressa, acabem logo com isto, dasse!
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.