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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
...era um jantar bem regado.
Sim, uns martinis antes, um bom vinho durante e um gin para terminar, daqueles bem feitos.
Para jantar, qualquer coisa boa, que não tenha sido cozinhada por mim, isso mesmo.
Para sexta-feira, numa espécie de comemoração do fim do ano letivo e do início de mais uns meses de desemprego sem direito a nada.
Obrigada!
Porque é que eu não consigo relativizar?
Porque é que não consigo relaxar?
Porque é que não consigo deixar de gritar?
Porque é que não consigo?
Porque é que não consigo deixar de criar expetativas?
Porque é que não consigo?
Doem-me as costas.
Sala de reuniões da junta de freguesia.
9.30 am
Senhora do IEFP chega e pede às pessoas que entrem e se sentem, enquanto lhe entregamos a convocatória.
Antes de me sentar, digo que queria esclarecer uma questão: "eu estou a trabalhar, nem sei se devia estar aqui."
Durante segundos, na minha cabeça passa-se o seguinte filme:
Senhora - "O QUÊ? ESTÁ A TRABALHAR E NÃO COMUNICOU AO CENTRO DE EMPREGO?! VOU JÁ CHAMAR A BRIGADA!" A SENHORA É UMA ASSASSINA! SENTE-SE ALI À ESPERA QUE A VENHAM PRENDER E LHE TIREM AS FILHAS!"
O que se passou de facto foi:
"Sim? vamos já ver isso, espere só um bocadinho." As pessoas acabam de entrar, ela gentilmente conduz-me à mesa onde tem os seus papeis e confirma a minha situação.
Quando lhe pergunto se posso manter a inscrição no centro de emprego mesmo estando a trabalhar, diz que sim e que há muita gente que o faz. Peço-lhe então que mantenha a minha inscrição e pergunto-lhe se, mediante isto, tenho de ficar para a formação, que ia durar uma hora. Diz-me que é como eu quiser. Eu digo que tenho muitas coisas para fazer e que me dava jeito ir embora. Ela sorri e diz-me: "então, adeus."
Como diria o sr Fernando Pessa: "e esta, hem?"
Fui convocada para uma reunião no local onde devería fazer as comparências quinzenais, para me obrigarem a frequentar uma ação de formação.
Estou desejosa!
Não ir implica a desinscrição do centro de emprego, coisa que não quero verdadeiramente perder. O centro de emprego da minha área de residência tem tido um papel crucial na minha vida. Qualquer problema, seja de que ordem for, eles ajudam-me. Ainda no outro dia lá fui, muito chorosa porque estava sem internet em casa e eles acalmaram-me, deram-me um chá de cidreira e eu vim para casa muito melhor. Outra vez, queimei o almoço, fiquei perturbada e lá fui eu. Sentaram-me numa cadeira, disseram-me que não era o fim do mundo e vim para casa muito melhor.
Não sei o que era da minha vida se não fossem eles e eu nem sequer estou a receber qualquer tipo de subsídio!
Os eventos relatados no 3º parágrafo são pura ficção. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
Afinal, a tag "desemprego" não vai engordar. Para esta trabalhadora não há subsídios, nem um...
Não haverá que contar. Espero pela carta oficial da Segurança Social a confirmar, farei as primeiras comparências quinzenais e não me preocupo mais. A vida é uma alegria e a gente faz poesia sem pensar.
Para registo, fique a conversa que tive com a Mr., a caminho do IEFP:
- onde vamos mesmo, mãe?
- vamos ao centro de emprego para eu me inscrever.
- o que é o centro de emprego?
- é o sítio onde as pessoas que ficaram sem trabalho se vão inscrever (duh!, não sabes nada, filha, pá!)
- e vais-te increver em que profissão?
... que a tag "desemprego" vai crescer nos próximos dias.... espero estar errada...
Eu ia hoje ao IEFP, ia, mas a minha filha mais nova, que tem acordado com pouca vontade de ir para a escola, hoje acordou sem vontade para nada.
Eu tinha duas opções: fazer tudo à força, e ela tem muita força e levá-la à escola de rastos, física e moralmente ou negociar e gerir a falta de vontade da miúda, o que poderia ser coisa para meia manhã.
Ganhou a segunda hipótese. Negociei, aparentando uma calma extrema, a ida para a escola e consegui sair de casa às 9.30, que era a hora a que, no plano original, eu já estaria no centro de emprego.
Agora, estou em casa, e tento convencer-me de que é só um dia, que amanhã vou conseguir deixá-na escola a hora decente, que amanhã deixo tudo resolvido, que não vale a pena ir à tarde ao dito centro, porque de certeza não ia ser atendida... e que fiz a opção certa...
Amanhã....
O meu contrato de trabalho terminou hoje.
Amanhã, rumo ao centro de desemprego, para me inscrever e ver se desta vez tenho direito a alguma coisa e se não demoram 8 meses a dar-me uma resposta.
Estou com suores frios!
Regressámos de três dias em Baltar.
Antes, uma pequena anotação do que se passou na véspera da ida, para memória futura.
Andamos (anda o M.) com um peugeot 205 de 1877, emprestado por um colega, para substituir o carro que vendemos.
Deu-se o caso de ele ter de levar o carro a sério e eu ter ficado com o peugeot para ir levar a Gr. à escola.
Saímos de casa as 3 mulheres e lá fomos nós.
Segui as instruções do M. (tinha de puxar o ar ao carro) e seguimos o nosso caminho.
À entrada na vila, mesmo na primeira rotunda, as luzes do tablier acendem-se todas e eu achei que dali não vinha coisa boa. Não veio! O carro não pegou mais, mesmo à entrada da rotunda! Eu tinha deixado o telemóvel em casa (muito inteligente da minha parte, eu sei).
Tentei manter a calma, pus os 4 piscas, saí e fui por o triângulo. Entretanto, pararam dois senhores, um deles agente da GNR antes de entrar ao serviço, que me empurarram o carro para fora da faixa de rodagem. Tirei as miúdas do carro, os homens foram à vida deles e preparei-me para fazer o resto do caminho a pé. Desaba um temporal! Pára uma senhora numa carrinha vermelha que se oferece para dar boleia. Eu, armada em irresponsável que sai de casa num carro velho sem telemóvel, declinei a oferta dada a ausência de cadeiras para as levar. A senhora, felizmente, ignorou-me e fez-nos entrar para a mala, onde, juntamente com uma caixas de alfaces, nos depositou mesmo em frente ao infantário! a próxima vez que me virem aqui a dizer mal das gentes da batalha atirem-me uma bigorna para cima, se faz favor.
Agora o nuorte! Os primeiros dias serviram para vermos carros em segunda mão, o sábado para fazer nada e o domingo para sair. Foi um forrobodó completo.
Almoço com duas amigas no mercado do Bom Sucesso e nem me atrevo a contar pormenores. Só digo que no feicebuque houve quem insinuasse que andávamos a beber de mais. O que interessa é que o almoço foi o melhor que se pode desejar: amigas com conversa semelhante a cerejas, boa comida e bebida ainda melhor (os vinhos do Douro estão excelentes).
À noite, mais amigas boas, num bar com música calma, ao vivo, regada por um gin que me causou azia.
Hoje, back to life, back to reality. Neste momento, tenho 4 miúdas aos gritos e a correr, dentro de casa e da minha cabeça também.
Amanhã estou oficialmente desempregada.
Aqui há uns tempos, uma pessoa que faz aula de barre terre comigo partilhou uma "boca" que um senhor cubano mandou numa confererência a que ela assistiu. Quando convidado a falar sobre a crise portuguesa, disse que em Portugal não havia crise nenhuma, que ainda há muitos gatos na rua. Em Havana não há gatos na rua, enquanto apontava para a barriga.
Concedo que, realmente, a maior parte das pessoas que conheço ainda não recorre a receitas de gatos vadios para matar a fome, mas esta versão do que é uma crise a mim não me convence.
Quando falo com os meus colegas professores contratados, vejo o mesmo desespero, a mesma angústia que me assola a mim, resultante da ausência total de esperança num futuro melhor.
A conversa gira sempre à volta "do que vamos fazer". No meio da escola pública, o túnel aperta e vamos perdendo a esperança de trabalho, no privado, as vagas estão preenchidas ou reina o "compadrio", que aliás cresce cada vez mais também no público.
Somos milhares, num túnel do qual não conseguimos sair, mas insistimos. Somos teimosos ou burros?
Levamos até às últimas a máxima de que a esperança é a última a morrer e insistimos. Chega esta altura do ano e lá vamos nós concorrer ao concurso nacional de professores, sabendo de antemão que ali não há nada para 95% de nós.
Somos burros, é a conclusão mais óbvia.
Excluindo conclusões que,vistas de fora, são óbvias, o que se passa é que se nos pomos a pensar em alternativas, elas exigem investimento em formação, para a qual a maior parte não tem capacidade financeira e sem garantias nenhumas de trabalho, ainda que precário.
Esta é a minha "crise".
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