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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
O meu avô acordava todos os dias às cinco da manhã. Vestia-se, barbeava-se e ia para a padaria. Mesmo quando já não lhe cabia a ele fazer o pão, o hábito manteve-se por muitos anos.
Lembro-me de ser acordada pelo relógio de parede que estava na sala e de ouvir o barulho que o avô fazia na casa de banho. Enquanto o sono não me vinha buscar, ficava a ouvir a água a correr e a imaginar que àquela hora ele era a única pessoa no mundo já de pé para ir trabalhar.
A minha avó foi a primeira "velha" que vi ao volante. Lembro-me de ficar impressionadissíma, porque o meu avô era homem à moda muito antiga, e nunca me tinha passado pela cabeça que permitisse à sua esposa conduzir.
O meu avô, que só fazia duas refeições por dia, enchia o prato até às bordas e acompanhava a comida com muito pão e uma garrafa de vinho que acabava invariavelmente vazia. Fazia-me impressão, a mim, sempre pronta a meter comida à boca, que aquele homem se mantivesse o dia inteiro com dois pratos de comida.
Quando eu me levantava, a avó perguntava-me "queres almoçar?" e a minha resposta imediata era um não, muito incomodado pela estranheza de almoçar às nove da manhã. Depois, lembrava-me de que na língua dela e dos das sua geração era o pequeno-almoço. Servia-me uma caneca de leite com um farrapo de cevada coada em pano branco e pão com margarina.
Depois, os primos iam aparecendo, gritando "avózinha" e debandávamos em brincadeiras.
Tenho assim lembranças que não posso chamar de remendos, porque não remendam coisa nenhuma, são mais farrapos que andam por aí.
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