Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
É sabido que a adolescência traz afastamento das crias.
Sabêmo-lo na teoria, aguardamos a sua chegada enquanto pensamos com os nossos botões que daremos conta dele, easy peasy ou piners, como dizia o outro.
O filho da mãe do afastamento, que às vezes até tem ali um vago cheiro de ódio misturado com desprezo, chega e cai-nos tudo.
Damos por nós a apanhar os cacos das nossas ideias pré-concebidas, argumentando que é preciso relativizar, mas caramba! isto mói.
mas fazem de mim chata
se tenho de repetir várias vezes a mesma coisa...
se tenho de pedir o mesmo pedido três e quatro vezes...
se se acumulam tarefas porque não foram feitas quando pedi pela primeira vez...
"mas queres que arrume a mesa ou que vá pôr a roupa a lava? tu decide-te!"
"se a roupa tivesse ido para a máquina quando eu pedi.... "
"Posso ir?"
"vou já!"
"Já vou!"
"É lidar!"
Quando a mais velha está mal disposta, estas são as frases que mais lhe ouvimos. Desaparece para os fones e aparece para indagar sobre o jantar. Vem ajudar após alguns "vou já" e "já vou" para voltar a hibernar quando acaba a tarefa para a qual foi solicitada.
Também é comum passar os dias a cantar.
Quando está bem disposta, dá ares da sua graça de forma mais frequente, oferece ajuda, quer cozinhar, dá abraços e não se importa de receber beijinhos.
Sem querer ser polémica, mas já sendo, muito provavelmente: os nossos pais tinham a vida facilitada no que à parentalidade diz respeito. Não tinham de negociar tudo e mais alguma coisa e ainda competir com os écrans desta vida.
Quando acabavam as aulas, fazíamos os trabalhos de casa ou não, víamos televisão nos dois canais e depois tínhamos de matar a cabeça a pensar no que havíamos de fazer para queimar o tempo. Íamos a casa de amigos, ficávamos por casa, deambulávamos pelas divisões, inventávamos jogos e coisas para fazer ou limitávamo-nos a ficar aborrecidos.
Hoje, com as minhas, filhas tenho de negociar tudo e mais um par de botas, enquanto luto para as manter afastadas o máximo de tempo possível da porcaria dos telemóveis e computadores. Arranjar entretenimento que não os inclua é uma dor de cabeça.
E tirá-las de casa? Gostamos de as incluir nos passeios e voltinhas que damos, porque ah e tal temos de fazer coisas em família e assim, mas perante as recusas insistentes e os amuos acabamos nós por perder a vontade de sair ou de as incluir no que quer que seja.
É muito cansativo, todos os dias isto, esta constante negociação de termos, pôrra!
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.