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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Cá em casa, o pai pinta as unhas das miúdas, o pai faz penteados, o pai "ensina" a mãe a andar de tacão.
Ontem foi um dia bom. Para ser muito lamechas vou escrever que foi um dia cheio de amor.
A miúda casou-se e quis-me lá, com ela, e de caminho quis também o Marco.
Quando o convite foi feito, a minha resposta foi logo um sim, claro que vou. Passados uns minutos dei por mim a duvidar, por montes de razões todas ligadas apenas a mim. Depois, assumi que se tinha sido convidada era porque realmente o convite fazia sentido na cabeça da noiva e deixei de lado os pensamentos parvos.
Ontem, o Marco acompanhou-me a um casamento onde não conhecia ninguém e onde iria sentir-se extremamente desconfortável, fazendo-me sentir que se eu queria lá estar, ele estaria comigo.
Ontem, fiz parte do casamento da miúda e o desconforto inicial (pá, sou uma wedding crasher, pensava eu com um cocktail na mão, antes da noiva chegar) deu lugar ao desfrutar do que estava a acontecer: a miúda estava a afirmar o seu amor pelo rapaz, e o rapaz a afirmar o amor por ela, com gestos, com olhares e palavras repletos de uma cumplicidade, de uma candura, de tanta coisa boa... que dou por mim com a máscara cheia de ranhoca e os olhos todos molhados (pimbas, estraguei tudo, agora).
Sou uma wedding crasher, disse-lhe quando nos abraçámos após a cerimónia. Mas não era. Nesta altura também o Marco estava rendido aos noivos.
O desconforto já tinha ido às urtigas. Na mesma mesa de outra miúda e do seu rapaz, passámos o resto do dia, em amena cavaqueira, desfrutando de um almoço delicioso, num sítio, que, caramba, era de sonho! Quando for grande quero lá casar!
Como disse à miúda antes de sair, só tenho agradecer o facto de nos ter querido lá, porque fomos testemunhas de um momento especial.
Tenho a certeza de que estes dois são marriage material e que irão sempre encontrar formas de se manterem juntos, lançando discos que vão ficar no top do Spotify, até serem velhinhos, cheios de tatuagens e sem poderem com o peso dos instrumentos!
Antes de me deitar, ontem à noite, ele pôs a coluna bluetooth a carregar na casa de banho. Não dei muita importância ao assunto. Acabei de lavar os dentes e fui-me deitar.
Ainda li um bocadito e, milagres dos milagres, o sono veio.
Hoje, quando o despertador tocou, praguejei para dentro e levantei-me.
Acordei a miúda mais nova, que tinha aulas às 8.30, fomos para a cozinha e tomámos o pequeno-almoço. Orientei-a e às pequenas coisas da casa e, com ele ainda a dormir, meti-me no duche.
Quando saí, enquanto me limpava, a coluna começou a tocar uma música estranha. Um misto de pop foleiro com Toy. Pensei: olha, tem o telemóvel conectado e isto é o som que ele escolheu para despertar.
A música continuou e chegou ao ponto em que entra a voz dele, a cantar uma coisa cujo refrão já faz parte dos hits cá de casa, inventado num verão de há uns anos. É qualquer coisa como "Tu és a minha linda! sem ti não sei viver.... " e mais um rol de cenas bimbas e pimbas.
Hoje, vinha a canção completa, cantada por ele. A sair da coluna. Tive um ataque de riso, misturado com lágrimas de nem sei bem o quê. Quando abri a porta da casa de banho, estavam os três a dançar, feitos malucos!
Esta é das coisas que mais gosto neste casamento, que hoje faz catorze anos: estas cenas pequenas/grandes, estes mimos, que fazem a engrenagem andar, não emperrar.
É um prazer estar casada com este tipo.
Está calor, dizes tu, o suor escorrendo pela testa.
Está calor, digo eu, abrindo os braços.
Tenho frio, queixo-me, e encolho-me num auto abraço.
Estás doente, dizes tu, e levas o dedo à cabeça, como se chamasses doida.
No dia 23 de dezembro, no supermercado, quando eu disse ao marco que não tinha nada para ele desembrulhar, dado que tinha comprado dois bilhetes para Nick Cave, ele apontou para um livro do Bill Bryson e disse: quero este livro. Então, eu apontei para o novo do Tordo e disse: eu quero este.
No dia 24, à noite, trocámos as nossas "prendas".
No dia 30 de dezembro o marco comprou-me umas pantufas, que me ficavam a "chinelar". Vendo que me ficavam a "chinelar" pediu à sogra a caixa da costura e toca de as arranjar.
Nessa mesma noite partiu-me queijo fininho, como eu gosto.
Nem sempre há surpresas, mas fazemos por ter gentilezas que são como chávenas de café quente numa tarde fria de janeiro.
Eu não sei dançar a valsa, disse-me ele baixinho.
Não faz mal, eu respondi. Dançamos outra coisa qualquer.
E dançámos um bocadinho, ali, os dois, coladinhos.
Não sei que dança era, se era tango, se era salsa, mas estávamos no mesmo salão.
És o meu marido, eu disse, mesmo antes de adormecer, a minha mão a chegar perto da dele, num toque só, de dedos.
É, às vezes ainda me causa espanto.
Vieste de mansinho e dançaste comigo o last christmas
fizeste-me entrar no natal
pela porta grande
obrigada
dançámos juntas enquanto eu me vestia para ir para a ginástica
fazemos isso muitas vezes e eu gosto tanto
que a nossa vida seja sempre uma dança
Sinto que isto de uma pessoa planear surpresas para a cara metade, sejam grandiosas, sejam surpresas pequeninas, à medida da disponibilidade financeira e emocional (sim, porque é preciso disponibilidade emocional para fazer coisas, para uma pessoa se mexer e conseguir fazer coisas), é meio caminho andado para a malta se manter apaixonada.
Apaixonada pela cara metade e pela vida, ou melhor, pelas pequenas coisas que fazem a vida de todos os dias.
Sábado foi um dia bom.
Este é o homem com quem casei.
Um animal no palco, em frente ao microfone, com uma tusa enorme pelo que faz.
Este é o homem com quem casei. O homem que se entrega, apesar dos medos e das ansiedades, que dá tudo de si, de forma conscenciosa e ao mesmo tempo exuberante.
Este é o homem com quem casei, que é na vida de todos os dias o que é no palco.
Parabéns, hombre, pelos 41 anos de vida.
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