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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
a ver se encaro isto
dia 1 de setembro e em casa, sem trabalho
como um "ótimo, continuo de férias"
em vez de
"grande merda, estou desempregada".
Um dia depois do pai sair da escola onde esteve cerca de 15 anos alguém lhe disse que a escola "tal" estava à procura de um professor do grupo dele. Enviou email com CV e foi tratar daquelas coisas que quem fica desempregado trata.
Nesse mesmo dia, a escola "tal" ligou-lhe, impressionada com o currículo e desesperada por não conseguir arranjar professor. O pai foi à escola "tal" e queriam logo que ele ficasse, mas as condições não agradaram ao pai, que nunca se escusou na luta de melhores condições de trabalho (o meu comunista de bolso, que orgulho eu tenho nele!).
Regateou aquilo que achou que tinha de regatear e acabou por conseguir trabalho na escola "tal", praticamente três dias depois de ficar desempregado. Moral da história: o ensino está a ficar depenado e se és professor do privado começa agora a exigir melhores condições e menos exploração. Amen!
Na sexta encerrou-se mais um ano letivo. Vim embora da escola da terrinha com um nó no peito (quem não viria, depois destes anos todos como contratada aos 42 anos de idade, sem saber nunca o que o futuro muito próximo reserva, ainda por cima, depois de ler coisas como "desculpa, professora, mas odeio as tuas aulas"?)
Vim embora e, quando cheguei a casa, o copo de vinho que esperava não chegou e a miúda mais nova tinha as orelhas furadas.
Meti-me no computador, decididida a mudar de vida (um sábio disse para a gente mudar de vida se não vives satisfeito muda de vida se há vida em ti). Busquei os sites de emprego e não havia nada que eu pudesse fazer. Lembrei-me da Sonae, e lá fui eu inscrever-me no site de emprego, afinal abriu aqui um supermercado e é sabido que eles estão sempre a contratar e eu preciso de ter alguma estabilidade finaceira.
Havia ofertas de emprego nos cortes de carne, nos frescos e para caixas.
Meti os meus dados e, depois, para continuar tinha de fazer o upload de uma carta de motivação.
UMA CARTA DE MOTIVAÇÃO para ter o trabalho de caixa de supermercado!
Meti-me na cama e só saí no dia seguinte, já o sol brilhava. Afinal, uma pessoa tem que se manter funcional, quando há uma família que precisa de nós.
Domingo: sornámos pela casa, fizemos um picnic, tomámos cafe, viemos para casa. Demos uma arrumadela, recebemos os tios e a prima que de regresso ao norte pernoitaram cá, jantámos, tomámos café na vila deserta, elas animaram a praça com jogos de apanhada e escondidas, viemos para casa, dormimos.
O dia acordou cinzento e com chuvinha fininha, deprimente. A condizer com a necessidade de ir ao IEFP.
A minha "cova da moura", na margem sul, que não era efetivamente a Cova da Moura, era aquilo que eu imagino que seja uma escola da cova da moura.
À hora de almoço, dois miúdos envolveram-se à porrada, um deles com ponta e mola fechada, mas em vias de ser usada. O colega que vinha comigo indicar-me um sítio para comer qualquer coisa meteu-se no meio para os separar e levou uma valente joelhada, enquanto à volta já uma multidão se reunia, gozando o espetáculo. Pelo ar calmo do colega, depreendi que aquela é uma situação corriqueira.
Não sei como seria ter ficado ali, naquela escola. Mas todos os dias, em certas escolas do nosso país, há professores que enfrentam batalhas campais em nome da educação. E estão lá, todos os cinco dias da semana e envolvem-se em projetos sociais que lhes tomam tempo e não lhes trazem dinheiro.
O nosso governo o que faz? humilha, menospreza, em nome do economicismo.
A mim, não me servia, mas ainda bem que há professores com tomates.
Quando saí de sociologia no ISCTE, por muitas razões incluindo a não apreciar a raça dos sociólogos ("isso é senso comum, isso é senso comum!" passavam o tempo todo a esfregar-nos com isto na cara), mas acima de tudo por não conseguir adaptar-me à cidade grande (sou uma totó, eu sei) e me mudei para a Fac. de Letras no Porto, para um curso que me interessava pela parte linguística e cultural, não pensei no futuro.
Não imaginei que 13 (pôrra!) anos depois, estaria aqui, em casa. Em casa sem duplos sentidos, sem conotações, em casa denotativamente falando, em casa, sentada no sofá, depois de arrumar a casa, para daqui a pouco, sair de casa e ir buscar as filhas e vir para casa.
Pôrra!
Estou tão aborrecida de estar em casa, sujeita às mesmas tarefas repetitivas e às mesmas rotinas, e tão aborrecida de não ter ninguém com quem falar que já faltou mais para escrever posts de moda a aconselhar roupa para as diferentes estações do ano e eventos, eu que quase não saio de casa.
Não tinha saudades disto, de estar aqui sentada à mesa, sozinha, agarrada a uma sande de restos.
Preferia ter posto a mesa e estar agora à espera do M. e da Mr. para almoçarmos os três, já que a Gr. regressou à escola mais cedo. (mas todos os dias chora e agarra-se ao meu pescoço... ai, coração sofre...)
No frigorífico já canta o horário do M.
Na sexta estará o da Mr.
Falta lá o meu. Terei horário para pôr no frigorifico?
Que merda de ansiedade.
Não estás desempregada, não estás.
Ainda estás de férias, ainda!
Agora vai lá à tua vida, vai.
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