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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
levanta o rabinho, faz favor.
não saias daqui.
despacha-te, corre!
onde vais, tão depressa?
mas onde é que queres ir? (enquanto tenta manobrar a cadeira, no meio do corredor)
Só para registo: ele
dia 18 de agosto, acidente de mota, a baixa velocidade, numa estrada secundária, clavícula partida, omoplata rachada, perónio partido
saem colocações: não fica
cirurgia, dores, começar o ano letivo de baixa, que se prolongará pelo 1º semestre, de acordo com previsões médicas
eu
enfermeira sem carta ou formação, navego nos mares do auxílio ao esposo
saem colocações: fico no concelho ao lado (onde no ano que terminou acumulei 5h)
levo e trago esposo do hospital, assisto impotente às dores pós cirurgia, às deslocações pela casa na cadeira de escritório (deveria ser uma cadeira de rodas) ( a de escritório tem rodas)
Aguarda-se com algum receio o que ainda aí virá relacionado com os cabrões dos seguros.
À minha volta, pessoas cheias de cancros. Dar graças por nenhuma delas ser meu pai, minha mãe, meus irmãos, filhas ou marido é uma ação egoísta? Falta de chá, insensibilidade? Escrever isto aqui piora as coisas? faz de mim uma besta?
É difícil falar/ escrever sobre estas coisas, no entanto, na verdade, é só quase esta questão que me ocupa os dias, se excluirmos o trabalho (os putos andam doidos) e as minhas miúdas (as miúdas andam doidas).
Por isso, calo-me.
Há intervenções cirúrgicas que são feitas em série. Assim, tu chegas ao sítio, previamente marcado com dois dias de antecedência, fazem-te as perguntas da praxe (tem doenças? toma medicação? tem alergias?) e depois ala para o bloco.
E ficamos assim meio embascacados, sem saber se esperamos sentados, se vamos à nossa vida, afinal que é isto no meio do turbilhão de coisas que acontece todos os dias? nada, um grão de pólen no ar.
E tu vens, à tua vida e de vez em quando páras para pensar mas já nem avanças com o que te assoma à cabeça tanta gente que não acorda da anestesia, tanta merdinha que pode correr mal mas não vai correr, vai fazer as camas será que já saiu do bloco será que a porcaria da pedra foi à vida será que vai tudo correr bem afinal que é tirar uma pedra do rim comparado com um tumor com um acidente grave com um transplante de medula ou outro órgão nada nada.
O quarto delas era a ala dos tuberculosos - tosse e tosse e tosse.
O resto da casa a ala de nefrologia, com um marido agarrado aos rins. Dizem as más línguas que agora ele já sabe o que é dar à luz.
Serviço público: chá de alburno de tília selvagem parece que faz milagres.
A Bela Adormecida acordou cem anos depois, o meu belo adormecido quase quarenta e dois anos depois. Eu não me importava nada se ele continuasse adormecido, ainda nem tenho a certeza se foi ele que acordou ou se me recuso a acreditar que saiu do seu coma profundo.
Continuo a dizer para mim que foram aqueles kivis azedos como tudo, mas a farmacêutica diz que não, que é quase de certeza o belo adormecido do herpes, neste caso labial (que podia ser outro...)
Estou com o canto inferior esquerdo do lábio num estado novo para mim, com umas picadelinhas chatas e uma coceirinha incómoda... o cabrão do gajo não podia continuar a dormir?
Eu era o Dumbledore, num sofrimento excruciante, a despejar a bacia daquela poção amaldiçoada, para chegar ao horcrux.
Eu era o Dumbledore a engolir aquela mistela, só que a mistela não era uma poção amaldiçoada e objetivo não era encontrar o horcrux.
Fui bebendo litro atrás de litro e colocando a possibilidade de não fazer exames nenhuns, afinal eu não tinha nada, quase de certeza, para que é que eu estava a sujeitar-me àquilo, já chega, por favor, mais não, mas isto cresce no copo em vez de diminuir, juro que há bocado parecia menos, isto cresceu, mas e se tenho uma pocaria qualquer a crescer-me aqui no corpo e depois não sei, bebe mais, anda, um bocado mais, já chega.
E bebi quase tudo, juro, no último litro vomitei, se fosse o Dumbledore, coitado, lá se ia o horcrux, lá se ia a possibilidade de destruir o Voldemort, mas eu não sou o Dumbledore e bebi quase tudo e fui fazer o exame na mesma. E não tenho nada, ainda bem.
Si você passou seu final dji semana limpando vômito e fazendo os trabalhos dji casa dji seus filhos!
Estou tão habituada a ser chulada, pagar e calar que, quando me "oferecem" coisas ou quando olho para a conta e não me assusto, fico de pé atrás, com medo de estar a ser enganada.
Fui a um fisioterapeuta novo em Leiria. Depois de uma sessão, "mandou-me" voltar lá para fazer exercícios no ginásio da clínica, uma média de duas vezes por semana, a custo zero. Ainda não estou em mim.
No dia 1 de dezembro de 2107 o meu ombro esquerdo "quebra". Passo o fim de semana a analgésicos. Corro todos os que tenho em casa, de 4 em 4 horas. No domingo à noite não aguento mais e vou às urgências.
Sem me tocar, o "ortopedista" de serviço diagnostica-me uma tendinite e manda-me tomar mais análgésicos e fazer "calores".
Na segunda vou ao médico de família, deveria voltar a trabalhar após a retirada da vesícula. O meu braço esquerdo não levanta e tenho dores, muitas dores, mesmo com o que o "ortopedista" receitou.
Minto ao meu médico de família, que é uma besta e digo-lhe que não estou boa para ir trabalhar (não estou mesmo, mas à conta do ombro, não de vesícula que já não tenho). Venho para casa com mais dias de baixa. Nessa tarde, cheia de dores, faço contas à vida. Estou um bocado desesperada e lembro-me de tentar uma sessão de fisioterapia ou osteopatia, sem saber mesmo se tal é possível sem ter requisição médica.
Acabo por conseguir marcar. Chamo um táxi. Chego e explico o que se passa. A fisioterapeuta aconselha-me ir ao um médico, para pedir que me façam exames médicos. Saio da sessão com menos dores e o meu braço já sobe um bocadinho.
Vou a um outro ortopedista. Descubro que tenho calcificações no ombro, que serão elas as responsáveis pela tendinopatia. Aconselha-me uma infiltração. Recuso. Já ouvi falar horrores, não quero. Manda-me fazer mais fisioterapia. Pode ser que a coisa corra bem.
Faço fisioterapia, dezanove sessões, gasto uma pipa de massa e, por ainda ainda não estar a 100%, vou AO especialista em ombro, ao suprasumo dos especialistas.
Ele faz-me uma infiltração e, dezanove sessões de fisioterapia depois, uma grande pipa de massa depois, o meu ombro volta à estaca zero. Tenho dores e não levanto o braço.
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