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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
As "coisas" não andam fáceis por aqui.
Há cerca de um mês, após uma aula de yoga que surgiu para compensar uma ausência da treinadora, dei por mim a procurar sessões de yoga no youtube.
Há cerca de um mês que quase todos os dias faço yoga. Se calhar, é uma afronta para os praticantes a sério ler isto, posso escrever que "há cerca de um mês dou por mim a seguir as instruções de uma instrutora de yoga e a praticar movimentos e poses, a respiração durante as diferentes poses e na mudança de pose para pose". Talvez seja menos insultuoso...
Há cerca de um mês que desenrolo o tapete e meia hora do meu dia é dedicado só a isso. A respirar, em posições que me esticam para lados diferentes ao mesmo tempo.
Escolhi uma instrutora, e são os vídeos dela que me acompanham, sem música, só o som da sua voz que vai dando as instruções, sugerindo alterações para quem quer ir mais além e para quem não consegue ir mais além e precisa de adaptações e os passarinhos, porque quase todas as sessões são gravadas ao ar livre, no meio de bosques.
Eu não sei se este "yoga" me vai salvar desta fase, mas que tem ajudado, isso tem. Já tinha lido muitos comentários de pessoas que choram durante a savasana e ontem dei por mim com as lágrimas a correr sentada em sukhasana.
É sabido que a adolescência traz afastamento das crias.
Sabêmo-lo na teoria, aguardamos a sua chegada enquanto pensamos com os nossos botões que daremos conta dele, easy peasy ou piners, como dizia o outro.
O filho da mãe do afastamento, que às vezes até tem ali um vago cheiro de ódio misturado com desprezo, chega e cai-nos tudo.
Damos por nós a apanhar os cacos das nossas ideias pré-concebidas, argumentando que é preciso relativizar, mas caramba! isto mói.
o pai cá de casa vai ser operado novamente, desta vez à clavícula;
o mais velha anda cansada e mal humorada (levantar todos os dias às 6.30, chegar a casa às 19.30 e ainda ter tarefas da escola para fazer é puxado);
a mais nova numa fase complicada, com a qual não sabemos lidar. Pudessemos nós ir à escola e partir as trombas a bullies e cenas assim... ;
eu cheia de trabalho, mas a aproveitar o facto de o pai ainda se poder mexer para cumprir com o ato de treinar trinta minutos quase todos os dias, aqui na sala, acompanhada de senhoras várias, todas elas boas como pipocas, que se dispõem a colocar vídeos no iutubi.
É o meu momento zen, que se reduzirá significativamente quando o pai vier da operação.
Há quem viaje, quem cozinhe, quem leia, quem medite. Eu castigo o corpo e foco-me na dor muscular para afastar os demónios, os pensamentos destrutivos, os medos e ansiedades.
Acabei há pouco um livro de ficção à laia de diário de um autor que desconhecia (Teju Cole), regressei ao Infinito num junco, mas necessitava agora de um bom romance que me levasse para a cama e me embalasse as noites.
mas fazem de mim chata
se tenho de repetir várias vezes a mesma coisa...
se tenho de pedir o mesmo pedido três e quatro vezes...
se se acumulam tarefas porque não foram feitas quando pedi pela primeira vez...
"mas queres que arrume a mesa ou que vá pôr a roupa a lava? tu decide-te!"
"se a roupa tivesse ido para a máquina quando eu pedi.... "
Sem querer ser polémica, mas já sendo, muito provavelmente: os nossos pais tinham a vida facilitada no que à parentalidade diz respeito. Não tinham de negociar tudo e mais alguma coisa e ainda competir com os écrans desta vida.
Quando acabavam as aulas, fazíamos os trabalhos de casa ou não, víamos televisão nos dois canais e depois tínhamos de matar a cabeça a pensar no que havíamos de fazer para queimar o tempo. Íamos a casa de amigos, ficávamos por casa, deambulávamos pelas divisões, inventávamos jogos e coisas para fazer ou limitávamo-nos a ficar aborrecidos.
Hoje, com as minhas, filhas tenho de negociar tudo e mais um par de botas, enquanto luto para as manter afastadas o máximo de tempo possível da porcaria dos telemóveis e computadores. Arranjar entretenimento que não os inclua é uma dor de cabeça.
E tirá-las de casa? Gostamos de as incluir nos passeios e voltinhas que damos, porque ah e tal temos de fazer coisas em família e assim, mas perante as recusas insistentes e os amuos acabamos nós por perder a vontade de sair ou de as incluir no que quer que seja.
É muito cansativo, todos os dias isto, esta constante negociação de termos, pôrra!
Aqui há uns sábados, após o jantar, comecei a ver o filme Yesterday. Ao fim de uns minutos, a família juntou-se à volta do sofá e viu comigo.
Uns dias depois, ouço a Mr. a cantar Eleanor Rigby. Com os meus botões rejubilei. Pensei qualquer coisa do género "que fixe! viu o filme, o filme que eu comecei a ver e ficou, por minha influência, interessada nos Beatles".
Era bonito, não era?
Diz que, afinal, uma versão anda a passar como êxito naquela rede social chinesa que começa em tik e acaba em tok.
O Jardim da Isabel foi a segunda casa das minhas filhas nos seus primeiros anos de vida.
As minhas filhas são o que são em parte porque andaram no Jardim da Isabel.
Olhando para trás, eu tenho quase a certeza de ter agradecido à Isabel o que fez pelas minhas miúdas. Se não o fiz, agora é tarde.
A Isabel morreu.
que fazes?
estou a pesquisar roupa alterna.
Até me caiu a caneta da boca, a caneta com que ia escrevendo no caderno e que punha na boca quando precisava de voltar ao teclado do computador.
Alterna? podia jurar que tinha ouvido alternadeira, que a minha mais velha queria roupa de alternadeira. Depois pedi para repetir e ela disse outra vez "roupa alterna". Claro que não podia ser de alternadeira, ela sabe lá o que é uma alternadeira.
Alterna, de alternativa, explica ela. Tudo bem, nada a opor, até bato palmas. Devo ter arrumado algures umas quantas saias e camisas que cumprem o requisito.
A outra, a mais nova, quer roupa no estilo kawai. o que é? não sei...
quando acho que a coisa até está a correr minimamente bem saem-se com estas pérolas que me fazem sentir uma velhadas de noventa anos.
Nome do meio agora: alheada.
Vejo-a caminhar à frente, de unhas pintadas de preto, toda ela, quase toda de preto, e tenho de fazer um esforço enorme para voltar atrás no tempo e lembrar-me de mim há trinta anos.
Só vos digo: adolescência é o karma, and karma is a bitch!
A disciplina na sala de aula ou a falta dela é um tema constante entre nós, professores. Vinha a pensar nisso (aliás, penso muito nisso) no outro dia numa das minhas viagens entre escolas. Vinha a pensar que, em certas turmas, tenho muitos problemas de disciplina e, claro, na minha cabeça o problema sou eu, que não sei impô-la ou não sei dar aulas de forma a que não seja necessário impô-la. Tive uma orientadora de estágio, da faculdade, que me deixou com a seguinte ideia (que me traumatizou, mas que na minha opinião é uma ideia errada): se o professor for bom, não há lugar à indisciplina, porque o bom professor cria e planifica aulas motivadoras, onde não há espaço para indisciplina. Durante anos esta ideia deu cabo de mim como professora e ainda dá. Todos os dias tenho de me olhar ao espelho e fazer o exercício mental de a desfazer para conseguir ir trabalhar, mas todos os dias me penitencio por não trabalhar mais.
Vinha a remoer esse pensamento, o de que tenho de trabalhar mais, mas depois inverti a coisa: eu não trabalho mais porque quando acaba o meu trabalho na escola eu venho trabalhar na minha casa - dar atenção às filhas e ao marido e à casa em si, o espaço onde moramos. E pensei que se todos nós fizessemos isso (dar mais atenção às nossas pessoas), depois, nas salas de aula, o professor não teria de passar tanto tempo a lidar com indisciplina, porque o básico já tinha sido passado em casa.
Portanto, está tudo invertido. Investimos nos locais errados e nas pessoas erradas, queremos fazer (olhó cliché) casas a começar pelos telhados, sem pensar nos alicerces.
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