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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
o pai cá de casa vai ser operado novamente, desta vez à clavícula;
o mais velha anda cansada e mal humorada (levantar todos os dias às 6.30, chegar a casa às 19.30 e ainda ter tarefas da escola para fazer é puxado);
a mais nova numa fase complicada, com a qual não sabemos lidar. Pudessemos nós ir à escola e partir as trombas a bullies e cenas assim... ;
eu cheia de trabalho, mas a aproveitar o facto de o pai ainda se poder mexer para cumprir com o ato de treinar trinta minutos quase todos os dias, aqui na sala, acompanhada de senhoras várias, todas elas boas como pipocas, que se dispõem a colocar vídeos no iutubi.
É o meu momento zen, que se reduzirá significativamente quando o pai vier da operação.
Há quem viaje, quem cozinhe, quem leia, quem medite. Eu castigo o corpo e foco-me na dor muscular para afastar os demónios, os pensamentos destrutivos, os medos e ansiedades.
Acabei há pouco um livro de ficção à laia de diário de um autor que desconhecia (Teju Cole), regressei ao Infinito num junco, mas necessitava agora de um bom romance que me levasse para a cama e me embalasse as noites.
mas fazem de mim chata
se tenho de repetir várias vezes a mesma coisa...
se tenho de pedir o mesmo pedido três e quatro vezes...
se se acumulam tarefas porque não foram feitas quando pedi pela primeira vez...
"mas queres que arrume a mesa ou que vá pôr a roupa a lava? tu decide-te!"
"se a roupa tivesse ido para a máquina quando eu pedi.... "
Sem querer ser polémica, mas já sendo, muito provavelmente: os nossos pais tinham a vida facilitada no que à parentalidade diz respeito. Não tinham de negociar tudo e mais alguma coisa e ainda competir com os écrans desta vida.
Quando acabavam as aulas, fazíamos os trabalhos de casa ou não, víamos televisão nos dois canais e depois tínhamos de matar a cabeça a pensar no que havíamos de fazer para queimar o tempo. Íamos a casa de amigos, ficávamos por casa, deambulávamos pelas divisões, inventávamos jogos e coisas para fazer ou limitávamo-nos a ficar aborrecidos.
Hoje, com as minhas, filhas tenho de negociar tudo e mais um par de botas, enquanto luto para as manter afastadas o máximo de tempo possível da porcaria dos telemóveis e computadores. Arranjar entretenimento que não os inclua é uma dor de cabeça.
E tirá-las de casa? Gostamos de as incluir nos passeios e voltinhas que damos, porque ah e tal temos de fazer coisas em família e assim, mas perante as recusas insistentes e os amuos acabamos nós por perder a vontade de sair ou de as incluir no que quer que seja.
É muito cansativo, todos os dias isto, esta constante negociação de termos, pôrra!
Aqui há uns sábados, após o jantar, comecei a ver o filme Yesterday. Ao fim de uns minutos, a família juntou-se à volta do sofá e viu comigo.
Uns dias depois, ouço a Mr. a cantar Eleanor Rigby. Com os meus botões rejubilei. Pensei qualquer coisa do género "que fixe! viu o filme, o filme que eu comecei a ver e ficou, por minha influência, interessada nos Beatles".
Era bonito, não era?
Diz que, afinal, uma versão anda a passar como êxito naquela rede social chinesa que começa em tik e acaba em tok.
O Jardim da Isabel foi a segunda casa das minhas filhas nos seus primeiros anos de vida.
As minhas filhas são o que são em parte porque andaram no Jardim da Isabel.
Olhando para trás, eu tenho quase a certeza de ter agradecido à Isabel o que fez pelas minhas miúdas. Se não o fiz, agora é tarde.
A Isabel morreu.
que fazes?
estou a pesquisar roupa alterna.
Até me caiu a caneta da boca, a caneta com que ia escrevendo no caderno e que punha na boca quando precisava de voltar ao teclado do computador.
Alterna? podia jurar que tinha ouvido alternadeira, que a minha mais velha queria roupa de alternadeira. Depois pedi para repetir e ela disse outra vez "roupa alterna". Claro que não podia ser de alternadeira, ela sabe lá o que é uma alternadeira.
Alterna, de alternativa, explica ela. Tudo bem, nada a opor, até bato palmas. Devo ter arrumado algures umas quantas saias e camisas que cumprem o requisito.
A outra, a mais nova, quer roupa no estilo kawai. o que é? não sei...
quando acho que a coisa até está a correr minimamente bem saem-se com estas pérolas que me fazem sentir uma velhadas de noventa anos.
Nome do meio agora: alheada.
Vejo-a caminhar à frente, de unhas pintadas de preto, toda ela, quase toda de preto, e tenho de fazer um esforço enorme para voltar atrás no tempo e lembrar-me de mim há trinta anos.
Só vos digo: adolescência é o karma, and karma is a bitch!
A disciplina na sala de aula ou a falta dela é um tema constante entre nós, professores. Vinha a pensar nisso (aliás, penso muito nisso) no outro dia numa das minhas viagens entre escolas. Vinha a pensar que, em certas turmas, tenho muitos problemas de disciplina e, claro, na minha cabeça o problema sou eu, que não sei impô-la ou não sei dar aulas de forma a que não seja necessário impô-la. Tive uma orientadora de estágio, da faculdade, que me deixou com a seguinte ideia (que me traumatizou, mas que na minha opinião é uma ideia errada): se o professor for bom, não há lugar à indisciplina, porque o bom professor cria e planifica aulas motivadoras, onde não há espaço para indisciplina. Durante anos esta ideia deu cabo de mim como professora e ainda dá. Todos os dias tenho de me olhar ao espelho e fazer o exercício mental de a desfazer para conseguir ir trabalhar, mas todos os dias me penitencio por não trabalhar mais.
Vinha a remoer esse pensamento, o de que tenho de trabalhar mais, mas depois inverti a coisa: eu não trabalho mais porque quando acaba o meu trabalho na escola eu venho trabalhar na minha casa - dar atenção às filhas e ao marido e à casa em si, o espaço onde moramos. E pensei que se todos nós fizessemos isso (dar mais atenção às nossas pessoas), depois, nas salas de aula, o professor não teria de passar tanto tempo a lidar com indisciplina, porque o básico já tinha sido passado em casa.
Portanto, está tudo invertido. Investimos nos locais errados e nas pessoas erradas, queremos fazer (olhó cliché) casas a começar pelos telhados, sem pensar nos alicerces.
Tomar decisões é coisa para lhe pesar, muito, toneladas. Peso esse que não sabe como aliviar. As vítimas são, regra geral, a mãe, a irmã e uma grande almofada que faz de cabeceira na cama da mãe.
Pega na dita almofada e vai de a sovar, de a atirar ao chão, de se atirar para cima dela, qual lutador de wrestling.
Toda suada, mas ainda lixada da vida, porque não sabe se escolhe A ou se escolhe B, esfrega o corpo no chão, dá abraços que magoam e a deixam sem respirar à mãe e a seguir vai implicar com a irmã.
É difícil escolher, estando sempre a pensar nas perdas que a decisão acarreta em vez de pensar nas vantagens e nos ganhos, mas a miúda recusa-se a ver as coisas deste modo.
Chega aquela fase em que eles, os filhos, se evadem pelos buracos que encontram.
Gradual e lentamente numa questões, demasiado rápido noutras, deixamos de acompanhar o que sentem, com quem falam ou nalguns casos, não falam, deixamos de ter as poucas certezas que tínhamos.
Ficamos naquele limbo de não saber se estamos a dar-lhes espaço ou se os estamos a abandonar aos seus pensamentos e dores, que eles agora nos escondem, com medo de não serem compreendidos.
Mal eles sabem que não precisamos de fazer muito esforço para voltar aos tempos em que tudo era negro e ausente de esperança num minuto e prenhe de felicidade no seguinte.
Mas eles sabem que podem confiar em nós, que vamos ouvi-los e compreendê-los, ainda que incapazes, por vezes, de lhes dar as palavras de que precisam.
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