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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Encontrei hoje este texto, de 2016, numa volta pelos meses de julho do passado deste blog. Achei-o tão delicioso que faço uma coisa inédita: volto a publicá-lo (é a segunda edição, que a primeira já foi toda vendida).
levanto a gr primeiro, preparo-a para a escola. que ela agarre bem estes últimos dias de despreocupação que o jardim infantil representa. levo-a e regresso a casa. a mr está à minha espera e tenho de lutar um bocadinho contra a preguiça que a acomete para a fazer sair de casa. vamos tomar café, compramos o que será o nosso almoço, fruta fresquinha e regressamos a casa. obrigo-a a ler, pondo em causa os direitos do leitor e os mandamentos da lei da leitura mais a gramática do verbo ler que não admite imperativo tal como o verbo ama e ela cede. depois liga a televisão e vê o zig zag. eu faço camas, arrumo roupas estendidas no estendal e no chão, que é o estendal preferido das minhas filhas e às vezes do meu marido, vou dando umas voltas pela blogolândia, faço o almoço, ela põe a mesa. à tarde a porca torce o rabo, não a deixo ver televisão e ela estende-se pela casa num aborrecimento sem fim. eventualmente deixo-a ir para casa da vizinha adolescente, que, coitada, tem de aturar a conversa constante e acelerada da minha filha. se o vento não nos lixar o esquema, há banho na piscina insuflável e depois lanche. por esta altura já o pai chegou e vou buscar a mais nova, que me abraça num abraço quente e saudoso para começar logo a seguir a pedir qualquer coisa pequena que perdeu, não sabe onde está, ou o peluche da patrulha pata ou o playmobil do bebé ou sei lá o quê. penso no jantar, faço-o, jantamos e elas brincam uma com a outra. os brinquedos do sótão têm regressado a casa e há mais coisas espalhadas, a mr. quer-se maquilhar e eu não deixo, temos conversas sobre o que significa ter quase nove anos e sobre ser criança. andamos assim, a curtir os dias que passam sem que haja testes e fichas para corrigir, notas para lançar e coisas chatas e obrigatórias. estamos de férias mas não estamos.
Este fim de semana, o pai e a mais nova foram dar uma volta ao nuorte e eu fiquei com a mais velha, que ainda está em modo estágio, portanto, passei muito tempo sozinha.
Podia ter feito daquele tipo de limpezas em casa que só a "solidão" permite, mas optei por fazer nada, para além de ver filmes, ler e andar por casa aborrecida.
Vi Licorice pizza e Tudo em todo o lado ao mesmo tempo. Gostei muito do licorice pizza. É aquele tipo de filme que nos deixa suspensos, à espera que aconteça algo absolutamente estranho e desviante, mas depois nunca acontece e acabas por ficar contente por nada disso acontecer e porque acaba como tu previas, mas tinhas medo que o previsível não acontecesse.
Estou a terminar um policial escrito pelo Paul Auster, sob um pseudónimo que agora não recordo e tenho ali num montinho os livros que vou levar para a praia (incluem Elena Ferrante).
Estas são aquelas semanas "parvas", em que me sinto num limbo, à espera que venham as férias "a sério" e acabo por não aproveitar o tempo.
Um ano letivo passado, as horas maratonas, os dias e os meses sprints.
Miúdas crescidas, a mais velha a caminho do segundo ano do curso de cozinha, agora em estágio (já a cozinhar quando lhe disseram que nem iria chegar perto do fogão), a mais nova a caminho do 9º, agora em férias dedicadas à guitarra elétrica (da bateria passou ao ukelele, do ukelele à guitarra acústica e agora passa as tardes com uma das guitarras do pai).
O pai, por falar nele, passou quase o ano todo em casa, graças ao acidente de mota ocorrido em agosto. Regressou à escola em finais de abril, para poder progredir na "carreira" e a mãe naquele limbo de quem está sem atividades letivas, mas sempre à espera de trabalho não letivo.
À espera, também, de desembrulhar o presente envenenado que foi a vinculação dinâmica, ou seja, estamos à espera de saber o que vai ser de nós no próximo ano letivo. O sr. ministro diz que as listas saem esta semana, sem ter consciência de que a semana tem cinco dias e que a nossa ansiedade ainda vai dar cabo de nós. A mim, trouxe-me um senhor herpes, aqui no lado esquerdo e acho que a comichão no olho e a sensação constante de ter areia da praia alojada na retina também se deve à dita cuja (da ansiedade).
Natal com parte de lá
até dia 29 pela zona norte
dia 30 arruma mala enfia tudo muito apertadinho na traseira do carro, ala para as beiras
"passagem de ano" a olhar para o relógio, quando é que chega a meia-noite, para fazer de conta que isto importa e eu poder ir para a cama?
regresso a casa no dia dois, para voltar à labuta no dia seguinte
Para registo:
o calendário deste ano, não tendo sido um flop completo, também não foi um sucesso estrondoso, mas é para manter.
As festas foram passadas no norte: natal com a sogra, noite de 31 de dez. para 1 de jan. com os meus pais.
Houve alguma vida social, condicionada pela chuva, que fez questão de estar sempre presente, passei muit tempo com os meus pais e não peguei em trabalho.
Recebi os livros que pedi (mais um da Leila Slimani, um da Zadie Smith e o primeiro da Sally Rooney).
Estou a acabar de ler O pintassilgo da Donna Tartt e não posso levá-lo para a cama (salvo seja) porque me dá pesadelos (passo a noite a sonhar com gansters e mafiosos a snifarem linhas de coca enquanto elaboram planos para me matarem porque tenho algo que lhes interessa, mas nunca sei o que é).
As miúdas andam sempre ranhosas e com dores nalguma parte do corpo.
Não fiz, como sempre, declarações de fim de ano nem balanços (isto fica registado apenas para memória futura).
O regresso ao trabalho faz-se com greves e manifestações, embora no agrupamento onde leciono ande tudo a dormir.
O ano letivo 21/22 terminou com muito cansaço, parecia interminável.
As miúdas deram o seu melhor, a mais velha cansada do articulado, a mais nova aparentemente sempre na boa, nós um bocado na merda, não vamos dourar a pilula.
As férias vieram, duas semanas já foram, na costa do costume.
A primeira semana primou pelo céu cinzento, que nos obrigou a descer pela costa até Lagos. Curtimos várias praias, com várias temperaturas, demos belos mergulhos. Tivemos a companhia da sobrinha.
Na segunda semana subimos a Odeceixe, revisitámos o Carvalhal e a Amália.
São Teotónio saiu de órbita e deslocou-se para o Punjab. As mercearias deixaram de ter produtos portugueses e cheiram a caril.
Regressámos ontem à Batalha, mas nem vamos aquecer as camas, que hoje mesmo subimos para o norte, para festejar os 15 anos de vida da mais velha.
As férias servem para mudar geografias, especialmente as mentais. Espero que o fim destas seja o início de anos letivos mais tranquilos, de cabeças mais leves e com mais amor e paciência.
Este ano letivo terminámos as aulas a 22 de dezembro (por estarmos em semestres). No dia 23 fomos para o norte. Arrumámos malas e malotes, enchemos o carro e saímos.
Tivemos tempo para ir dar umas prenditas e por volta das seis da tarde já trocávamos os bs pelos vs.
O Natal foi passado na casa da avó paterna, com o costumeiro bacalhau cozido com batatas e o cabrito assado.
No dia 26 fizemos outro natal com os tios e a sobrinha. No dia seguinte, fomos em excursão a Braga, comer aquela que dizem ser a melhor francesinha.
No dia 29 deixei marido e miúdas e rumei às beiras, com os meus pais. Li muito, dei umas voltas a pé, aqueci os pés à lareira.
A sobrinha apareceu para passar a noite de 31 de dezembro para 1 de janeiro. No primeiro dia do novo ano apanhámos o comboio na estação de Belmonte e fomos até à Guarda. Este pedaço de linha, que esteve desativado durante uns anos valentes, voltou ao ativo no verão e vale a pena.
Em casa, com a sobrinha, não houve tempo para aborrecimento.
As miúdas e o pai juntaram-se a nós no dia 2. Foi um regabofe de brincadeira entre primas.
Passámos a semana de contenção de contactos por lá. Demos um salto à serra.
Entre trabalhos de casa que não tinham sido feitos, jogos e brincadeiras, delas, trabalhos de formação meus, passou-se a semana.
Amanhã regressamos à escola e, pela sondagem que fiz, está tudo sem vontade.
Deve ser desta porcaria de momento em que vivemos, cheio de virus e medidas de contenção.
Vamos esperar que, entretanto, o tempo nos dê algum ânimo.
Não podia faltar o relatório das férias de 2021, para mais tarde recordar.
As aulas nunca mais acabavam, mas quando acabaram e pudemos mandar-nos daqui, fui com as miúdas para Belmonte, sem o pai, depois estivemos no norte e no início de agosto mandámo-nos para o sul. Uma semana no Monte do costume e outra quase em espanha.
Para o Monte levámos a sobrinha, elas fartaram-se de apanhar ondas e eu nem os pés consegui molhar. A água estava gelada. Fiz várias tentativas, fui fruto de gozo e pilhérias, mas o resultado era sempre dores excruciantes nestes ossos, aparentemente de mulher de oitenta anos.
Em Tavira apanhámos um calor de ananases, consegui ir a banhos e até comi bolas de berlim. Para variar e não ter de andar sempre a atravessar a ria, experimentámos a Manta Rota, que achámos uma bela porcaria (mil desculpas se ofendo alguém). Dormimos mal para catano.
Fui à loja social, para me abastecer de livros às carradas, a preço da uva mijona, mas havia quase nada. Despachei uns quantos que levei de casa do paterfamilias e os melhorzitos que me vieram à mão na dita loja social (todos em inglês).
No fim destas duas primeiras semanas, dividimo-nos pelo norte e Belmonte.
No norte, demos uma saltinho curto à Imbicta, com as miúdas. Comprámos cenas da Jewels don't shine, mamámos (eles, eu não, que não sou apreciadora) uns eclairs da leitaria, vimos a fila de 2kms para a Lello e ficámos assombrados com a quantidade incrível de turistas que voltou a inundar a cidade.
No interior centro e desquecido, fizemos a rota das praias fluviais, para descobrir que não tem nada de desquecido, dada a quantidade de gente que havia por todo o lado. Numa só tarde, tentando encontrar um spot decente e sem gente, corremos três praias de rio.
Conclusão número um: vamos ficar pela de sempre, que conhecemos de gingeira e da qual gostamos, embora a água seja gelada.
Conclusão número dois: as fotos das praias são bem boas, mas quando chegamos aos sítios ficamos a modos que desiludidos, não sei se porque ver tantas pessoas quebra o encanto, se porque de facto os locais não são tão aprazíveis como as fotos queriam fazer parecer.
Como a miúda mais velha tinha de ser vacinada, regressámos à base ainda antes do agosto acabar.
Demos uns mergulhos neste mar (só numa tarde fui mais vezes à água do que no Monte) e para não desiludir, quando ainda contemplávamos uma terceira ida a banhos, veio aquele nevoeiro típico do oeste, que nos mandou para casa a tremer de frio. Definitivamente, aqui não dá para fechar a praia às oito e meia da noite como lá por baixo.
Setembro veio com ameaças vãs de chuva e trovoada e a colocação aqui ao lado de casa, onde me arrisco a encontrar pais e alunos ao virar de todas as esquinas (no comments).
Bora lá, ano novo!
desfiz as malas, hesitantemente
como se o ato de guardar nas gavetas a roupa com que andei de um lado para o outro neste mês fosse sinónimo de um fim de uma coisa que não quero que tenha fim
digo às miúdas que só apreciamos as férias se não estivermos sempre de férias
mas na verdade eu queria estar sempre de férias
naquela disposição de não ter horários para cumprir, sítios onde ir ou coisas obrigatórias para fazer
naquela disposição de deixar para amanhã o que podia fazer hoje
Miúdas rumam a norte em meados de julho.
Pais ficam em casa, em pinturas e arrumações: bolores e autocolantes foram à vida.
No ínício de agosto rumámos todos em direção à Costa de sempre, pela primeira vez só os quatro na primeira semana, com tios e prima na segunda.
Aniversário da mais velha no norte. E pelo norte ficámos o resto do mês.
No geral, se me perguntarem: mas tiveste tempo de descansar? tempo tive, mas a minha cabeça continua cansada.
Estou sentada na mesma mesa, no mesmo computador, para cúmulo com as mesmas pessoas online/presencialmente e parece que ainda ontem o ano letivo 2019-20 terminou e já estou novamente embrenhada no 2020-21, com o cérebro a 20% e sem vontade de fazer coisa nenhuma.
Serei só eu?
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