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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
A adolescência dos nossos filhos é um veneno que os pais vão tomando em doses homeopáticas. Eventualmente, eles crescem e deixam de o despejar no café ou nas bebidas e o que houver no sangue é excretado.
Para já, sinto-o nos meus poros todos.
Há umas semanas, voltámos (o grupo de teatro do qual faço parte) aos palcos.
O Marco perguntou-me há quanto tempo eu não me sentia feliz e eu fui capaz, sem sombra de dúvidas, de responder que me senti muito feliz no palco no fim de semana em que regressámos. Tanto, que desisti de desistir do grupo.
O meu cabelo está cada vez mais branco. Os meus cabelos brancos não me incomodam por serem brancos. Incomoda-me o serem parvos, com uma estrutura completamente diferente dos outros que ainda não embranqueceram. Não são lisos, mas também não são ondulados. Fazem da minha cabeleira uma coisa estranha. O meu cabelo anda a contribuir, em parte, para o meu estado atual de estar um bocado na merda. É absolutamente "redículo", eu sei, um problema de primeiro mundo e de um mundo onde não temos de nos esconder em bunkers para nos safarmos de uma bomba, eu sei.
Meio sistema de ensino está em pausa letiva mas nós em semestre, o que significa que pausas não são para nós. Pessoalmente, não tenho nada de bom a dizer disto da semestralidade. Nunca estive tão cansada e, provavelmente, tão ranzinza.
Está esclarecida a minha ausência do caixote, nem eu me aguento.
Abro a porta da cozinha e a gata mia. Preparo as coisas para o pequeno-almoço, nem sei se posso chamar-lhe assim, pequeno-almoço, se elas não comem quase nada.
Elas chegam, ensonadas e rabujas. Metem à boca pedacinhos de torradas e bebem chá ou cevada. Parece que o leite as enjoa durante o ano letivo, para passar a saber bem apenas nas férias.
Depois, preparo os lanches para a escola. A gata ronda os nossos pés e os pés da mesa, em miados agudos de quem não come há semanas, mas tem o seu prato cheio. A culpa é de quem lhe dá pedacinhos amarfanhados de fiambre.
Despacho-as da cozinha com o cheiro das torradas com manteiga entranhado nas mãos. O que vale é que é um cheiro bom.
Rabujas, as minhas filhas preparam-se para ir para a escola. Eu preparo-me no que falta preparar.
Saímos. A geografia inicial mantém-se a mesma há vários anos. Depois, sigo viagem nos caminhos novos que trilho todos os anos. Invariavelmente cheios de curvas. Este ano, mais curtos. Já não era sem tempo!
Daqui não vejo, mas imagino, porque estendi-os logo pela manhã (fresquinha, fresquinha), os três soutiens: o meu, o da mais velha e o da mais nova.
É muito estranho, isto de ter em casa pessoas que, de um momento para o outro passaram, a necessitar de usar algo como um soutien.
que fazes?
estou a pesquisar roupa alterna.
Até me caiu a caneta da boca, a caneta com que ia escrevendo no caderno e que punha na boca quando precisava de voltar ao teclado do computador.
Alterna? podia jurar que tinha ouvido alternadeira, que a minha mais velha queria roupa de alternadeira. Depois pedi para repetir e ela disse outra vez "roupa alterna". Claro que não podia ser de alternadeira, ela sabe lá o que é uma alternadeira.
Alterna, de alternativa, explica ela. Tudo bem, nada a opor, até bato palmas. Devo ter arrumado algures umas quantas saias e camisas que cumprem o requisito.
A outra, a mais nova, quer roupa no estilo kawai. o que é? não sei...
quando acho que a coisa até está a correr minimamente bem saem-se com estas pérolas que me fazem sentir uma velhadas de noventa anos.
Cá em casa, as miúdas e o pai fartam-se de mandar bocas uns aos outros. Riem-se e ninguém se ofende, mas creio que passa das marcas quando se passam cenas destas:
a mais velha chega a casa, muito contente porque fez festas a um burro.
A mais nova diz que não é nada de mais, que ela faz festas a um burro todos os dias, começando discretamente a fazer festinhas no braço do pai.
No sábado, a mais nova teve o primeiro sarau de ginástica acrobática. Esteve desde as quatro até às seis e meia enfiada num maillot lindo de morrer, toda ela elegante, linda de morrer, num pavilhão gelado como o Alaska.
A mais velha é que ficou constipada.
Pergunta a mãe: lembram-se daquela vez em que íamos a subir a serra e vocês não paravam de discutir uma com a outra e eu disse que se vocês não parassem o pai ia dançar lá para fora?
Responde a Mr.: sim, e nós não parámos e o pai foi mesmo. Parou o carro, saiu, tirou a T-shirt e começou a dançar! Pois foi!
- Bons velhos tempos!! - Diz a outra.
O ano letivo acabou (ainda ontem começou, é a sensação que tenho).
Para as miúdas correu bem. Acho que sou menos ansiosa em relação à mais nova no que toca à escola e vou dando asas à mais velha.
Ainda não estou de férias, mas já não tenho trabalho. Fiz duas formações e ando agora com os trabalhos de avaliação das ditas cujas. Foi giro.
Tive companhia para andar para baixo e para cima, para fazer relatórios e avaliações no meio de muita galhofa e umas quantas minis, superbock e sagres.
Ontem terminei a segunda ronda e acabámos o jantar a falar sobre fenómenos como reuniões da maleta vermelha. Foi giro.
Não sei o que o ano letivo que aí vem traz (que novidade!), mas este trouxe-me duas pessoas bem porreiras!
Estava difícil pôr a mais nova a ler. Tal como fiz com a Mr. nunca a obriguei a pegar num livro. Fui fazendo pressão, pouquinha, fui pondo livros no meio do caminho, mas a miúda não tinha interesse nenhum (nada de mais, a mr também demorou a ainda agora é preciso forçar um bocado a barra).
Entretanto, na escola, uma miúda apareceu com um livro de BD que metia um unicórnio. Tudo em tons de rosa, como a chavala gosta e aquilo deixou-me interessada.
Na última ida àquela grande superfície comercial que começa em F e acaba em ac, comprei-lhe o primeiro da coleção. Já vai a mais de meio. E é muito gira vê-la concentrada, com a cabeça mergulhada no livro.
Estou também a dever dinheiro à Mr. porque subornei-a para ler um da Alice Vieira e ela já vai para o segundo, tendo gostado do primeiro (Paulina ao piano).
Não me lembro de alguma vez ter sido subornada pelos meus progenitores para ler, mas ei! vale tudo na guerra a favor da aculturação das camadas mais jovens!
O solfejo com o pai, as contas com potências e os perímetros das circunferências, com a ajuda da tia ci, torradas com manteiga e chá de lúcia-lima, para a mais velha.
Uma ida ao Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota com o tio pedro e a prima rosarinho , bolachas carregadas de chocolate, para a mais nova.
Quando quiser ter lembranças deste fim de semana, só vou lembrar-me ter estado o tempo todo a estudar! zanga-se a mais nova, com toda a razão, mas o que é que a gente há-de fazer?
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