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lembrar os mortos

por blogdocaixote, em 10.07.24

Sonhamos com os mortos para matarmos saudades. Será?

Esta semana sonhei com o manel, na semana passada sonhei com o meu tio, sonho com alguma frequência com ele. Aqui há uns meses sonhei com a minha tia. Faz amanhã um ano que partiu.

Aqui em casa tenho pedacinhos dela, que me fazem sorrir e me deixam a casa mais colorida. Curiosamente, são coisas que ela tinha guardadas. Gostava de janelas fechadas e de divisões na penumbra, a minha tia. Escolho pensar que queria manter vivas as cores, não fossem elas ser comidas pelo sol. 

 

 

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publicado às 19:52

disseram-te adeus

por blogdocaixote, em 14.07.23

à tarde, pouco antes de o teu caixão descer à terra, dois senhores estavam sentados nas cadeiras junto à porta. Tinham um ar solene, ali sentados, olhando em frente, na tua direção.

Perguntei quem eram e disseram-me que eram os dois senhores do café onde ias pela manhã tomar a tua bica.

Quando sairam, a mão de um deles levantou-se, num aceno breve, num adeus discreto, e eu achei aquilo bonito. 

A minha tia do coração deixou-nos no dia 11 deste mês. 

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publicado às 20:23

Ao décimo nono dia do mês de abril de 2022, dois anos e picos depois do início da pandemia, os adultos desta casa testaram positivo, com sintomas, ao Covid19.

Nessa noite, a nossa gata deu sinais de morte e deixou-nos de madrugada. 

A minha Pata. A nossa Pata. 

 

 

 

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publicado às 19:13

À Isabel

por blogdocaixote, em 06.12.21

O Jardim da Isabel foi a segunda casa das minhas filhas nos seus primeiros anos de vida.

As minhas filhas são o que são  em parte porque andaram no Jardim da Isabel. 

Olhando para trás, eu tenho quase a certeza de ter agradecido à Isabel o que fez pelas minhas miúdas. Se não o fiz, agora é  tarde.

A Isabel morreu. 

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publicado às 12:29

Pintovski

por blogdocaixote, em 14.03.21

Sonho muitas vezes contigo.

Entraste lá em casa como o Pinto. Para mim, criança com cinco anitos, era um nome estranho. Eras o pintovski, aquele do bigode enroladinho. Aparecias ao serão, bebias um copo com outros que também andavam por lá, como o Baptista e sei que havia mais, mas não me lembro dos nomes.

Passaste a fazer parte das festas de anos, daquelas à moda antiga, sem temas e sem decoração. Só com pessoas, comida e muita conversa para os adultos e brincadeira para as crianças. Lembro-me de uma passagem de ano que foi a loucura. Às tantas da madrugada fomos todos levar-te a casa pela vila acima. Querias porque querias meter-te no teu carro azul, cheio de pinta, acho que era um Datsun, mas não tenho a certeza, querias por tudo ir de carro. Mas os adultos estavam todos bem bebidos, não que eu tivesse consciência disso, e obrigaram-te a ir a pé. Fomos todos.

Depois, tu, que ias ficar para tio, conheceste a minha tia, aquela que também ia ficar para tia, a minha tia preferida, e passaste a tio Pinto. Foi muito fácil essa passagem. 

Sonho contigo muitas vezes. Com boina preta, com bigode, sem bigode e de chapéu de palha.

Não sabia que me ia custar tanto pensar que já não existes. 

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publicado às 17:32

update

por blogdocaixote, em 08.11.20

Cá estamos, naquela correria típica dos dias que passam e não deixam marcas exceto as rugas no corpo e os cabelos brancos.

Ainda nenhum de nós apanhou covid, mas faz dois meses que morreu o sogro.

O período está a mais de meio e as miúdas já terminaram a primeira ronda de testes.

Neste momento, ambas são frequentadoras mais ou menos assíduas de clínicas de psicologia (achávamos nós que estávamos a fazer um trabalho minimamente decente e vai-se a ver são crianças marafadas).

A mr é proprietária, muito contra nossa vontade, de um telemóvel (ou mantinha-se a nerd da turma, excluída da vida social que agora se faz quase exclusivamente online), a gr. herdou o dumbphone da irmã e já nos pode telefonar se precisar de alguma coisa.

O pai cá de casa está em vias de perda substancial de peso e está mais bonito.

O paterfamilias vai fazer anos, mas não podemos ir vê-lo porque estamos confinados. 

Não pude ir ver o Ivo Canelas porque estamos confinados.

E confinados para tudo e ao mesmo tempo para nada vamos ficar. 

 

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publicado às 17:15

Numa das primeiras noites lá em baixo sonhei com o meu tio. Estava doente, mas vivo. Tão vivo que consegui abraçá-lo. Trazia o tronco nu, como se andasse ele na praia e usava o seu chapéu de palha. 

 

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publicado às 15:36

estágios

por blogdocaixote, em 23.04.19

O tio pinto morreu na semana anterior à Páscoa. Foi triste. Foi um estágio para mim, a primeira a chegar à minha tia. De repente, dou por mim a dar opiniões na escolha de caixões e de pacotes de funerais, a procurar roupas e fotografias, a decidir coisas que a tia estava incapaz de decidir. Foi triste e surreal. Foi um estágio. 

 

 

 

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publicado às 16:03

é a vida e é a morte

por blogdocaixote, em 15.01.19

foi o que ela me disse, depois de me fazer confirmar que eu estava triste pela ti ci.

"É a vida e a morte, mãe". 

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publicado às 11:56

que adianta?

por blogdocaixote, em 11.01.18

tanto tempo sem pôr aqui as minhas letras e regresso para falar de morte.

nas férias de natal, tivemos a notícia da morte de uma pessoa que andou connosco na escola, um tipo da minha idade, um médico "hotshot", daqueles que na secundária tirava 20 a tudo (exceto educação física) e que já sabia o que ia ser quando fosse grande aos 4 ou 5 anos.

Morreu. Num segundo estava vivo, no segundo seguinte estava caído no chão, morto. A este tipo, da minha idade, já tinha morrido um irmão, atropelado,quando criança. A mãe destes dois filhos perdeu, portanto, dois filhos.

A gente evita pensar nisso, bola para a frente, que adianta ficar a pensar na arbitrariedade disto tudo? Nada! É andar, é andar, que atrás vêm outros.

Ontem, soubemos via telefone, da morte de outro tipo da nossa idade. É andar, é andar, que adianta ficar a pensar que não vale a pena nada?

Mas pôrra! Pôrra! Pôrra! 

 

 

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publicado às 11:04


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