Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Venho aqui só tirar o pó aos cantos, limpar teias de aranha.
Não dormi esta noite, embora me tenha deitado cedo. Quis acreditar que ir dormir inverteria o sentido de voto da nossa população. Quis acreditar que ia dormir e que, ao acordar, os palhaços, os vigaristas, os pedófilos, os ignorantes, o mânfios, os defensores do ódio não iam tomar conta do parlamento.
Ah, porque os outros são todos uns santos! não são vigaristas! hão-de de gritar alguns, cheios de ironia e escárnio.
Não são todos uns santos, não, mas eu acredito que ainda há políticos do lado certo da força. A estupidez e a tacanhice é que são mais fortes.
É mais fácil acreditar que o cagão do ventura vai fazer milagres do que ler os programas e ouvir as ideias de quem tem ideias. É mais fácil acreditar que os emigrantes são o problema e que os políticos são todos corruptos.
Apareceu-me no feed, era um vídeo antigo, pela roupa e pelo quadro de ardósia lá por trás, diria que era da década de 80, inícios de 90. A senhora tinha sotaque português de quem está há uns anos no Brasil.
Dizia que os Estados Unidos não têm cidadãos, pois que só têm para se identificar um cartões de crédito e a carta de condução. São apenas consumidores, detêm dois cartões que provam a sua capacidade de aquisição.
Achei isto genial e tão atual! Não guardei o vídeo e agora não tenho como voltar a vê-lo para descobrir quem era a senhora, pelos comentários percebi que era uma professora de ensino superior que teria saído da Anadia e ido para o Brasil.
Assim, percebemos porque é que voltaram a votar na trampa. Reduzidos a meros consumidores, completamente polarizados...
E nós caminhamos para lá, para o mesmo estado.
Passou-se fevereiro e não pus aqui os dedos, para escrever o que quer que fosse.
Não é que fevereiro não tenha sido rico em coisas. O trabalho, a falta de vontade, a má gestão do tempo levam-me daqui.
Tenho andado focada nas aulas que dou, nas coisas da minha casa, nas minhas coisas, nas filhas, no tempo à lareira, em séries e em livros.
Fui ver Tim Bernardes, fui ao cinema ver a adaptação do vento assobiando nas gruas, da Lídia Jorge, tenho lido, mas tenho também passado tempo a mais naquela rede social onde os mais novos só deixam "histórias" efémeras e os mais velhos registos vários para a posteridade.
É muito isto que nos diferencia, parece-me. Instagrams que vivem de marcas que permanecem e os outros, que têm zero publicações, mas inúmeras histórias que as 24 horas apagam.
Ontem, o meu casamento fez dezassete anos e ontem, também, o país deu a vitória nas eleições legislativas à força da direita.
Não sei porque fiquei surpreendida. Afinal, é apenas a repetição do que se vem a passar por todo o mundo nos últimos 8 anos.
Acho que tinha a esperança patética de que fôssemos diferentes, de que não nos deixássemos levar pela vontade de votar no inseticida, para nos vermos livres das aranhas, como se fôssemos imunes ao veneno que vem no inseticida.
Quando eu precisar, sei que não é o partido do cocó que me vai ajudar. Quando eu precisar, sei que são as forças da esquerda, dos valores da democracia e da igualdade de direitos e deveres que vão estar do meu lado.
Tenho pena que as pessoas cansadas (as trabalhadoras, que picam o ponto das 8 às tantas) não sintam o mesmo.
terminei ontem o acontecimento da Annie Ernaux.
era um livro que poderia ser lido de uma penada, mas demorei quase uma semana
tive de parar várias vezes
ontem à tarde, a mr. disse-me que estavam a ver o filme Juno nas aulas de filosofia, para depois falarem sobre responsabilidade na vida sexual
hoje, numa das minhas viagens entre escolas, pensei que a leitura deste livro seria bem mais eficiente
e depois pensei que numa sociedade "avançada" não caberia na cabeça de ninguém criminalizar e perseguir quem escolhe fazer IVGs
vai sempre haver quem decida fazê-las e quem se proponha a "ajudar" as mulheres a levar a intenção para a frente
o mais correto é que as mulheres que decidam fazê-las o possam fazer com segurança e sem terem de sofrer as dores físicas que elas implicam se forem feitas sem segurança
as mentais e emocionais, creio eu que para a maior parte das mulheres, já são castigo suficiente
agora, à tardinha, leio algures num feed de notícias que num estado qualquer da américa querem propor a pena de morte para as mulheres que façam abortos
não entendo que razões estão por trás deste retrocesso mental
custa-me aceitá-lo
O dono da quinta em frente cortou todas as árvores que nos tapavam a vista para a "porcaria".
Agora, vamos à varanda e temos uma vista nova, mais desafogada, sim, mais aberta, sim, mas não deixa de ser uma paisagem totalmente diferente. Era a minha paisagem: as árvores, a estrada pitoresca que subia, cheia de sombras.
Dispensava esta abertura de vistas diretamente para a pequária, dispensava aquele muro feito de blocos de calcário, a estrada mais larga, a visão dos tejadilhos a passar na autoestrada fantasma lá em cima (até isso agora vejo).
Eu sei que os terrenos são do dono da quinta, que ele tem o direito de fazer o que lhe apetecer, mas também acho que quem pode mexer assim com as vistas dos outros cidadãos também devia ter de consultar os cidadãos afetados.
As doenças sexualmente transmissíveis são assim chamadas - transmissíveis - porque passam, única e exclusivamente, entre as mulheres. Não há homem que as tenha e que, por via de as ter, as passe às mulheres.
As gravidezes, já agora, são também da responsabilidade exclusiva da mulher, que circula pela vida a recolher esperma alheio, à revelia do macho.
Senhor Doutor médico de família, ensine as suas doentes a controlarem os ímpetos sexuais e a não angravidarem. Ou então, deixe-se lá disso de permitir IVGs só porque a paciente "pede". Continue também a não solicitar exames de diagnóstico de problemas provocados por relações sexuais desprotegidas. Assim, as possíveis doenças sexualmente transmissíveis não aparecem nas suas fichas, a sua reputação (do sr. dr.) não é manchada.
Em relação aos seus doentes machos, deixe-os lá andar livres e soltos. Afinal isto das consultas de planeamento familiar é só para mulheres. Os homens não planeiam nada, a gente já sabe. Boys will be boys, não é?
Quando é que defender os direitos dos trabalhadores, o acesso a saúde para todos, o acesso a educação para todos passou a ser extremismo? quando?
quando é que votar no filho da puta do andré ventura (vou encher a boca toda as vezes que forem precisas e dizer isto assim sem pejo e sem meias medidas, filho da puta do andré ventura) se tornou legítimo?
Então, objeção de consciência para os pais que não desejam que os filhos frequentem as aulas de cidadania?
Para quando para as aulas de ciências? é que os pais que acreditam que a Terra é quadrada também têm direito. Os que não acreditam no evolucionismo também.
E os que entendem que a Ilha dos amores constitui um atentado ao pudor e aos bons costumes e não querem que os seus filhos sejam sujeitos a contaminação por via do ensino da literatura?
Tem de haver objeção de consciência para todos.
Por baixo desta notícia , uma chusma de comentários apelida de idiotas e outros nomes ofensivos sempre a subir na fasquia do bom português, o grupo que se formou para ajudar os brasileiros que tiverem de sair do Brasil por causa do "bolsonarismo".
Idiotas, mas idiotas de tão burros e estúpidos que são, são esses comentaristas, que não percebem que as coisas acontecem assim:
"Quando os nazis vieram buscar os comunistas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um social-democrata.
Quando eles vieram buscar os sindicalistas,
eu não disse nada;
eu não era um sindicalista.
Quando eles buscaram os judeus,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um judeu.
Quando eles me vieram buscar,
já não havia ninguém que pudesse protestar."
Martin Niemöler
E um dia, virão por eles também, esses ignorantes, cambada de ....
Todos os dias chegam ao agrupamento miúdos brasileiros. Pelo que ouço de outros locais, o fenómeno não é exclusivo de Leiria e ainda hoje, quando fui levar o almoço às minhas miúdas, um pai brasileiro fazia o mesmo.
Não sei se é o efeito "bolsonaro" ou se é uma tendência que agora se acentuou por diversas razões aliadas ao colapso de uma vida com condições dignas para todos.
Temo o que se irá passar nos próximos anos no Brasil, não só pelos brasileiros, mas pela forma como estas tendências fascistas/extremistas estão a ganhar terreno no nosso país. Todos os dias nos facebooks desta vida aparecem pessoas a clamar por um novo salazar, indignadas com a corrupção.
Cheira ao que se passou do outro lado do Atlântico e temo que o mesmo se venha a repetir aqui, caso se forme um partido que seja capaz de agregar todos estes seres que parecem ver na existência de corrupção a justificação para regimes autoritários e limitadores das liberdades dos indivíduos.
Fica-se com a impressão de que as pessoas mais velhas que viveram durante o Estado Novo se esqueceram do que era viver sempre com medo do "vizinho" e que as mais novas não sabem nada nem querem saber de História.
Ou então, é aquela velha máxima "history repeats itself" a funcionar, não havendo nada a fazer.
Eu quero acreditar que há.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.