Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
A próxima personagem que me calhou na nova peça é uma freira ganzada.
Necessito de vídeos nos quais me possa basear para construir o boneco, ou então, o envio gratuito de material que eu possa usar (também conhecido por canábis).
Muito agradecida.
Eu não sei o nome da Sensinha, sei que é a Sensinha porque é assim que todos se referem à velhinha de metro e quarenta que anda para baixo e para cima, com as mercearias da família.
A Sensinha não falha um ensaio de teatro. Se falha, sabemos que está doente.
A Sensinha é a primeira a decorar as suas falas e as suas deixas e nunca as falha, ainda que a dentadura lhe salte com o nervosismo. Deixa a canadiana que a ajuda a deslocar-se no dia a dia, e lá sobe ela ao palco, sejam muitas ou poucas as escadas.
A Sensinha é a senhora que leva sempre uns pastéis de bacalhau ou um bolinho feitinho mesmo hoje de manhã, comam, comam que saiu do forno há bocadinho.
A Sensinha caiu do palco no sábado à noite, em Ermesinde e o "engraçado" é que todos vimos a queda em câmara lenta, o corpo pequenino da Sensinha a rebolar palco abaixo.
No domingo de manhã, a Sensinha chegou à hora marcada para partirmos para Guimarães, independentemente de ter o corpo cheio de mazelas da queda.
Deus dê muitos anos de vida à Sensinha.
Afinal, era só uma e vai-se a ver, era um homem.
Nós vamos lá e vamos encher aquilo de gajas e gajos giros, participando no Grande fim de semana de teatro.
Muita merda. (bem necessitados estamos, porque o ensaio geral foi... Ui... )
Na sexta saímos mais cedo, chegámos mais cedo e às 9 da noite lá estava eu em Baltar para o ensaio geral. Acabou à uma, com uma pequena pausa para fazer a mudança de cenário do ato I para o ato II.
Correu muito mal. A encenadora esteve o tempo todo a dar deixas, falas inteiras, o tempo todo a corrigir entradas e saídas, marcações, eu sei lá!
Correu tão mal que saí da sala de espetáculo a desejar um acidente, um anúncio de bomba para o dia seguinte, qualquer coisa que nos impedisse de estrear a peça.
No sábado levantei-me cedo, cedo de mais para quem se tinha deitado às duas. Depois de dar uma série de voltas que tinham de ser dadas, às duas da tarde lá estava eu e toda a a gente para mais uma sessão de ensaio.
Com atrasos deste e daquele, conseguimos começar efetivamente a trabalhar por volta das 3.
Eram oito quando acabámos, com alguma brincadeira pelo meio, para libertar a tensão e o stress.
Petiscámos ali mesmo, nas bancadas onde daí a uma hora e meia haveria público.
A casa ia estar lotada, cheia até às costuras e nós cheios de medo.
Antes da hora marcada para o início já havia público a entrar.
Fechámos o pano, fizemos um aquecimento rápido, desejámos muita merda uns aos outros, abraçamo-nos e lá fomos nós às nossas posições.
Não foi perfeito, somos amadores, mas somos também e, acima de tudo, "amadores" do que fazemos. As pessoas riram e enterneceram-se, bateram palmas e cantaram e nós divertimo-nos, com muito orgulho pelo que fazemos... ainda que de véspera tenhamos pedido aos deuses do olimpo uma qualquer desgraça.
Hoje estreamos "Como a comida quer ao sal". A julgar pelo ensaio geral, não há necessidade de as pessoas virem aqui desejar "muita merda". Correu tão mal, tão mal que o pessoal ria, ria, ria, para não desatar a chorar. Ou seja, vai dar merda, de certeza!
Quem me ouvir, há-de pensar que perdi o juízo, mas estou só a estudar o texto da próxima peça, que estreia em março.
E então, como corre?
Mal.... Ensaiar sozinha é uma bosta!
Devia ter sido assim:
Um anfiteatro.
Um grupo de mais novos das duas às três.
Um segundo grupo de mais velhos das três e meia às quatro e meia.
Exercícios de aquecimento do corpo e da voz, com uma musiquinha de piano, exercícios de expressão dramática mais ou menos livres, jogos de exploração da voz e da expressão corporal, dramatização de um pequeno conto, mais infantil para o grupo dos mais novos, mais "adulto" para o grupo dos mais velhos.
Como foi na realidade:
um pavilhão gimnodesportivo para albergar quase quarenta putos todos ao molho e fé em deus,
quarenta putos a correr e a gritar pelo pavilhão fora,
quarenta putos a correr e a gritar,
uma "formadora" a gritar "não, pá, não...."
Uma "formadora" a pensar "que se foda, isto é para eles se exprimirem, que gritem para aí."
Uma "formadora" a tentar reunir os putos todos, numa de: já agora, vamos dramatizar alguma coisa.
Os putos a dramatizarem cenas de contos tradicionais.
Mais uma experiência para o currículo.
Honra me seja feita: sou uma medrosa, cheia de reticências, mas quando me estendem desafios, e fecho os olhos, dou um grito mudo (aaaahhhhhh, no que me vou meter aaaaahhhhh) e aceito, vou, faço.
Continuo a fazer parte de um grupo de teatro e a representar papeis sem ensaios em grupo, aqui há uns anos fui dar uma entrevista a uma rádio local, agora vou dar um workshop de teatro.
Que sei eu de teatro exeto pegar num papel, decorar deixas e depois seja o que for?
Nada, portanto. Mas fecho os olhos, grito aaaahhhhhh e vou. Para a semana lá estarei. Que espetacular que sou. Ou que burra!
Vestido: figurinos do grupo de teatro, kitado pela d. Elsa
Peruca: emprestada pela Titi, há séculos
Sapatos: dysfunctional by Eureka
Leque: alguém mo meteu na mão
Máscara: diretamente de Veneza, emprestada pela Rita
Tropecei mil vezes na cauda do vestido, abri e fechei o leque em espasmos sensuais outras mil, disse disparates e ri-me muito, sem ter bebido uma pinga de alcool (tá bem! tá bem! bebi uma imperial depois do jantar, uma!)
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.