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Mais um caixote para atirar para lá a tralha que anda para aqui perdida.
Hoje vou ver S. Pedro.
Ontem adormeci no sofá por volta das 21.30.
Ando com um livro chamado Shuggie Bain para cima e para baixo, ainda não me agarrou por isso tenho passado mais tempo agarrada à porcaria do instagram. Graças a ele acabei por saber que no parlamento europeu iam, esta semana, defender o direito ao acesso à IVG. Pus o algoritmo a funcionar e reeviei a conta @myvoicemychoiceorg. a quase todos os meus contactos. Deixo isto registado aqui como forma de redenção.
Sei que passo tempo de mais naquela coisa, tanto que por vezes tenho a tentação de eliminar o dito cujo, mas depois lembro-me de que, embora por vezes me deixe muito deprimida, também é através dele que me chega muita coisa.
Ando cansada. Esta semana dei por mim estacionada em frente a uma escola. Faltavam uns 5 minutos para a próxima aula. Olhei para o edifício e só pensei "há algo de errado aqui. Onde é que eu estou?" Estava na escola errada.
Na próxima semana tenho pausa para avaliação intermédia e anseio por ela, mesmo sabendo que vou trabalhar no duro. É o facto de não ter de ir dar aulas que me deixa contente. Este ano letivo, que ainda agora começou, está a ser difícil.
O L. tem comportamentos que fogem à norma, não aceita um não como resposta, é incapaz de estar sentado numa sala, se contrariado entra num ciclo de violência, aparentemente não sabe usar garfo e faca e só faz o que quer. Para não perturbar muito e não correr toda a gente ao pontapé, quando quer sai da sua sala de aulas e vai percorrendo a escola, entrando e saindo de salas.
Numa escola onde não há recursos para ser de outra maneira, deixá-lo andar à vontade, desde que não faça muita merda, é o que se pode chamar de "do no harm" se a escola fosse um hospital e os professores fossem médicos. Não conseguimos chegar-lhe, mas pelo menos tentamos não fazer pior.
O meu cérebro anda, há uns anos, a funcionar a 70%. Tenho a certeza disto quando regresso das compras, especialmente se não levo lista.
Ando pelo supermercado a compor mentalmente o que deveria levar, à medida que caminho pelos corredores. Chego à manteiga e penso assim: "também tenho de levar queijo e fiambre", mas o desenho do supermercado faz-me desviar para o corredor da mercearia, onde me lembro que se calhar deveria aproveitar o desconto do arroz e levar um pacote e o resultado é que, entretanto, nesse flash de segundos, me esqueço do queijo e do fiambre. Este modus operandi sucede-se o tempo todo que permaneço nas compras. Chego a casa e só comprei metade.
Quando levo lista também me acontece o mesmo. No corredor do papel higiénico lembro-me de que ele está a acabar, e não está na lista, mas faço um pequeno desvio para pegar em lenços de papel que estão na lista. É claro que já me venho embora sem papel higiénico.
Outro momento em que sei que estou abaixo das minhas capacidades é quando escrevo no computador. Por vezes, não consigo encontrar teclas e outras esqueço-me de como se escrevem algumas palavras.
A dar aulas, o meu cérebro fica vazio, especialmente no último tempo da tarde. Chego a casa e quero afundar-me no sofá. Pouco consigo fazer de trabalho da escola, mas assim que pouso a cabeça na almofada para dormir, o meu cérebro ativa-se e acha que é o momento ideal para preparar aulas.
Este ano letivo devo ter, no máximo, dois alunos por turma, no 3º ano, que sabem ler e escrever sem dificuldades.
Aindo só passou uma semana completa de aulas e já estou em transe.
Deixar registado - porque a memória é curta e, agora mais do que nunca, este sítio é o repositório do que vai acontecendo - que mais um "ano" acabou (se pauto os inícios e os fins pela vida escolar).
A gr. avança para o secundário, pela via científica, após um 9º ano que começou mais ou menos mal e terminou bem.
A mr. acaba o 2º do curso em estágio por Bilbau e estava a ver que por lá ficava, tal o encantamento pela vida de liberdade e descobertas....
O pai fica-se lá pelo cú de judas entre Alcanede e Santarém, onde gosta de estar e a mãe vinculou definitivamente no agrupamento onde esteve nos últimos dois anos.
A ver como a coisa corre.
A primeira parte das férias pela costa de sempre (a Vicentina), uma semanita que passou a voar e depois três noites numa casita ali por Sâo Pedro do Sul, ora demolhando o corpo numa piscina, ora a esturricá-lo em passeios pela zona.
Estamos agora em casa, sem a mais nova, que ficou pela costa. Preparo-me mentalmente para a entrada na maioridade da mr.
É uma miúda porreira. Não é só por ser minha filha que gosto dela. Gosto dela mesmo. É uma mistura gira do que eu e o pai dela temos de bom e esta constatação a que chego enquanto escrevo deixa-me meia comovida.
Estou a fazer formação para aprender a pôr a IA a trabalhar para mim.
Estou banzada com aquilo. Adormeço a meter prompts e acordo a meter prompts.
Mais um ano ou dois e vamos ser todos incapazes de usar a massa cinzenta. Pedimos aos chatgpts desta vida e aos bots e lá vamos nós.
It's the end of the world as we know it (lá, lá, lá, lá...)
na saúde e na saúde, casei-me com um agrupamento de escolas
o herpes é agora uma ferida chata ao canto da boca, mas trouxe com ele uma infeção no olho.
na quinta-feira passada, a caminho de um treino, depois de um dia de cão, recebo uma chamada do Marco, que se tinha pisgado para um jantar com amigos. Eu tinha ouvido a notificação de mensagem, mas estava a conduzir. Atendi a chamada e o homem grita-me de lá do restaurante "Vê a mensagem! vê a mensagem!" Quando percebi que seria a minha colocação, nem acertava com os dedos para abrir o raio das mensagens.
Para quem estava cheia de cagaço (Lisboa era o meu destino, acreditava eu), ficar aqui pelas bandas do oeste, ainda por cima onde há um monumento que é património da humanidade, foi assim como um duche de água morna para uma pessoa suja e cansada.
Vou de férias sabendo para onde vou e que é lá que fico uns tempinhos.
Um ano letivo passado, as horas maratonas, os dias e os meses sprints.
Miúdas crescidas, a mais velha a caminho do segundo ano do curso de cozinha, agora em estágio (já a cozinhar quando lhe disseram que nem iria chegar perto do fogão), a mais nova a caminho do 9º, agora em férias dedicadas à guitarra elétrica (da bateria passou ao ukelele, do ukelele à guitarra acústica e agora passa as tardes com uma das guitarras do pai).
O pai, por falar nele, passou quase o ano todo em casa, graças ao acidente de mota ocorrido em agosto. Regressou à escola em finais de abril, para poder progredir na "carreira" e a mãe naquele limbo de quem está sem atividades letivas, mas sempre à espera de trabalho não letivo.
À espera, também, de desembrulhar o presente envenenado que foi a vinculação dinâmica, ou seja, estamos à espera de saber o que vai ser de nós no próximo ano letivo. O sr. ministro diz que as listas saem esta semana, sem ter consciência de que a semana tem cinco dias e que a nossa ansiedade ainda vai dar cabo de nós. A mim, trouxe-me um senhor herpes, aqui no lado esquerdo e acho que a comichão no olho e a sensação constante de ter areia da praia alojada na retina também se deve à dita cuja (da ansiedade).
Bem a propósito, na unidade 4 "my family", o manual do 3º ano vem com um áudio chamado "Modern families". Quatro crianças apresentam as suas famílias, os miúdos têm de as identificar. Uma família dita tradiciona, uma birracial, uma família asiática alargada e, por último, uma constituída por duas mulheres e dois filhos.
Na primeira turma da manhã, quando inicio a conversa, pergunto-lhes se percebem porque é que o áudio se chama famílias modernas. As respostas são extraordinárias e nenhuma aponta para os elementos que constituem os diferentes grupos ou laços entre eles. São modernas porque "estão vestidas à moda", porque moram em cidades, porque são "chinesas".
Chamo a colega titular e peço-lhe que me ajude a conduzir a conversa. Eu não tenho nenhum objetivo em concreto, acima de tudo receio levantar questões que possam ser mal interpretadas e quero apenas ouvir o que eles têm a dizer. Deixo que seja a colega a fazer as "despesas". Nenhuma criança daquela sala revela incómodo ou estranheza por haver ali um casal de lésbicas ou outro constituído por duas pessoas diferentes na cor.
Na turma da tarde, já quase no fim do tempo, faço a mesma pergunta. Não há respostas, mas vejo espanto e incrudelidade: teacher, ali naquela família há uma mother e uma stepmother, como é que isso é possível? e levanta os braços, com ar de quem diz "duas mulheres não funciona, ou funciona?"
Começam a falar uns com os outros, não querem que eu ouça, insinuam coisas que não ousam dizer, como se fossem asneiras ou palavrões. "isso que dizer que elas são.... " e pára, fica ali com a palavra suspensa. Lésbicas, acrescento eu, e vejo-os encolherem-se. A teacher disse "lésbicas"!
E lanço a pergunta: porque não?
Diz uma: uma senhora pode ter tido um marido, mas depois ele morreu ou separaram-se e depois ela arranjou uma pessoa que é uma senhora e decidem criar os filhos." Claro, digo eu. E olho para o relógio. Acabou o tempo, deixo-os com aquela ideia. Mando-os arrumar, despeço-me e saio.
Venho para casa a pensar como dois grupos de alunos conseguem ser tão diferentes.
A colega titular x ligou-me. Não compreendia as avaliações que fiz aos alunos da sua turma. Não querendo questionar, mas pondo em questão, achava aqueles insuficientes injustos. Que eu não conhecia aqueles alunos e portanto não podia dar assim estas negativas. De uma forma completamente incongruente, queria convercer-me de que a "opinião" dela era mais válida do que a minha.
Fiquei furibunda. Nós tomamos decisões com base no conhecimento que temos, nas circunstâncias que nos rodeiam. Mais tarde, muitas vezes, pensamos: "se eu soubesse, tinha feito diferente". Acontece que não sabíamos e tomámos a decisão que nos pareceu mais correta.
Mas não era essencialmente sobre isto que queria escrever.
A colega x dizia que os resultados não se iam alterar na medida em que o que os alunos precisam é de apoio familiar.
Acrescentou que as medidas universais que vai aplicar vão fazer com que os alunos com mais dificuldades e com necessidade de mais apoio às vezes acabem por tirar melhores notas do que os outros.
Fogo! e ainda nos queixamos de que andamos a brincar às escolas. Ainda não percebemos que este mascarar de resultados, este sucesso educativo completamente falso é que é responsável por tudo o que há de errado na nossa sociedade!
Se os verdadeiros resultados escolares fossem publicados era ver os ministérios todos a pensarem em medidas que dessem aos pais tempo de acompanharem os filhos, para termos pessoas de jeito.
Olha, vai daí que isso também não interessa nada.
Vai daí que fazer isso, não inventar sucesso onde ele não existe, podia ser o equivalente a todas as greves e manifestações.
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