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Também posso escrever sobre aquilo dos contratos de associação?

Nos últimos vinte anos o estado financiou entidades privadas, principalmente na zona centro.

Durante estes anos, essas entidades privadas encheram o bolso de dinheiro à custa do estado e da exploração dos seus funcionários, docentes e não docentes. Encheram os bolsos porque nunca o estado se lembrou de fiscalizar a aplicação do dinheiro que saiu dos seus cofres.

Durante estes anos, roubaram alunos ao ensino público, publicitando ensino de qualidade e projetos pedagógicos mais interessantes, quando na realidade o que fazem é dar aos pais mais espaço de manobra para terem os filhos nas escolas durante o dia de trabalho, ocupados com atividades extra e grupos de apoio ao estudo, sempre às custas dos professores e funcionários.

Durante estes anos, os professores desses colégios foram aceitando as condições de trabalho que essas mesmas entidades oferecem sem nunca se oporem, trabalhando muito mais do que 40 horas semanais e ganhando cada vez menos.

Agora, que o estado decidiu atuar em parte do problema, devolver ao público os alunos que devem ser do público, os professores dos colégios são aqueles que, por nunca terem reclamado das situações em que trabalham, se irão lixar.

 

Quanto aos pais, não têm legitimidade para reclamar sobre direito de escolha se se partir do princípio de que somos todos a pagar. Eu também gostava de poder escolher outro médico de família, mas não posso. Tenho o direito de ir ao privado e pagar e esse direito ninguém me tira.

Espero que o governo não recue na decisão, apesar de ter um marido a trabalhar no setor em causa, espero que o governo não ceda às pressões da oposição, que tem na agenda privatizar todo o sistema escolar e já agora o da saúde também.

Quanto ao meu marido, quando as condições de trabalho que lhe ofereciam começaram a descambar, tomou uma posição: a de se bater pelos seus direitos e não permitir que lhe tirassem a dignidade. E eu tenho uma porrada de orgulho nessa postura, que só revela a espinha dorsal que o gajo possui.

 

 

 

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publicado às 11:17


17 comentários

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Fatia Mor a 24.05.2016

Percebo muito pouco da temática e sei muito pouco das implicações e dos motivos para esta revolta momentânea, quando há anos que se conhecem as condições em que estes colégios de associação operam. É uma pena que não hajam mais pessoas como o teu marido, que se debatem pelos seus direitos e que, por arrasto, trazem um ensino melhor, mais equilibrado e mais justo.
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blogdocaixote a 24.05.2016

Se todos exigirmos os nossos direitos.... o problema é que muitas pessoas têm medo de perder o que já alcançaram, por muitas e variadas razões, "esquecendo" que a união faz a força e que o povo unido jamais será vencido.
(sim, sou comunista)
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Ana a 24.05.2016

COMUNISTAS!!!!! Empresas é verdade, que de repente o estado tira o tapete... Quanto é que vai custar esta medida, quantas crianças carenciadas vão ficar sem oferta escolar na zona???? No mês de matricula??? Estão a brincar, com as familias, com as escolas... Palhaços!!!!! O vosso dinheiro ( meu também) vai para financiar a CGD e para o Governo mais pesado ( $$$$) de toda a nossa história. Os contratos com os Hospitais ???' quanto custa ao cidadão... Ladrões!!!! Incompetentes!!!!! 35 horas de trabalho???? Quanto custa???? Estão preocupados com a Educação???? Escolas mal geridas, professores a reclamar 35 horas...Tenha vergonha na cara!!!! Estas decisões não são tomadas em cima do joelho, paguem o mesmo que pagam numa turma do estado... os país que suportem o resto!!!! Ladões.... a Educação é o bem mais precioso de uma sociedade.... Palhaços!!!!
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Ana a 24.05.2016

Só se fala em direitos???? e as obrigações????
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blogdocaixote a 27.05.2016

Exma. Sra. Ana, creio que o árbitro já disse tudo, como eu não seria capaz de dizer. Foi muito claro na resposta que deu e tenho a certeza de que até a senhora, apesar da ignorância que revela a todos os níveis, será capaz de a perceber.
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O árbitro a 24.05.2016

Dona Ana, tenha calma por favor.
Se me permitir, tentarei esclarecer algumas das suas questões, dado que se trata de uma situação que me é muito próxima.
- Concordo consigo no seguinte:
- não se toma uma decisão destas assim à pressa;
- o estado esbanja dinheiro em bancos: privados ou estatais;
- o estado tem parcerias publico-privadas que são um ultraje ao dinheiro dos contribuintes;
- A educação é o um dos bens mais preciosos de uma sociedade;

- Discordo de si no seguinte:
- parece-me que a autora do blog não é membro do governo, logo livre de expressar a sua opinião sem ser mal tratada por causa disso;
- nenhuma criança vai ficar sem acesso à educação, uma vez que nos locais onde não haja escola da rede pública, manter-se-ão os contratos de associação;
- as escolas privadas poderão manter os alunos todos que quiserem, tal como a senhora refere e muito bem, quando estes pagarem uma mensalidade à tal escola privada. Poderão alguns ainda beneficiar da ajuda do estado denominada de contrato simples;
- as escolas da rede pública, na sua esmagadora maioria, são escolas com qualidade, garantida pelo profissionalismo da esmagadora maioria dos seus funcionários: docentes e não docentes.
- há outras situações onde o dinheiro de todos nós é mal gasto, é certo, mas isso não justifica que nesta também o possa ser.
- há escolas privadas com contrato de associação que prestam um serviço de qualidade, mas, a maioria, manipula alunos, pais, professores, políticos, numa desavergonhada rede de negócios milionários.

Em jeito de conclusão e a título de reflexão, eu digo que a educação é valiosa de mais para se tornar num negócio.
Os melhores cumprimentos para si e para a autora.

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Lis a 24.05.2016

Lúcida análise e elegante resposta.

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lettersandwords a 24.05.2016

Por que razão não tem o sapo um emoji ou emoticom de um sapinho bater palmas de pé? Porquê, porquê?
Palmas para ti...
Palmas para o M...
E palmas para O árbitro.
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marina a 25.05.2016

Parabéns pelo destaque deste post (bem merecido), pela postura do seu marido (que é de louvar). Eu tenho liberdade de escolha, eu optei por pôr a minha filha num colégio privado e eu pago. Se não pudesse pagar, a minha filha estaria no público, onde eu me formei...Para mim não há dúvidas, o investimento do estado deve ser nas escolas publicas e na falta destas, aí sim, nas nos colégios. Marina
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blogdocaixote a 27.05.2016

Obrigada, Marina. Bons estudos para a filha, seja no privado, seja no público. :)
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Luis Moreira a 25.05.2016

Ena, só não se perbece porque os alunos enchem estas escolas e porque têm óptimas e modernas instalações ao serviço dos alunos.Além do projecto educativo escolhido pelos alunos o financiamento do estado é dirigido ao investimento na escola. Roubar alunos? São os alunos que rejeitam a escola pública. É humilhante
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O árbitro a 25.05.2016

Luís Moreira: compreendo perfeitamente o seu argumento. É de facto uma questão que deverá ser tida em consideração quando se fizer uma discussão séria e profunda acerca do ensino em Portugal. O que oferecem os colégios que a escolas da rede pública não é capaz de oferecer? Tenho algumas ideias que poderão ser parte da resposta, e que passo a enumerar:

- transporte exclusivo: grande parte dos colégios tem transporte próprio e/ou pago pelas autarquias. E muitas vezes esse apoio surge em detrimento do transporte para escolas da rede pública;

- os funcionários dos colégios, docentes ou não docentes, são obrigados a trabalhar muito mais horas do que aquelas que lhes competem e que são remuneradas. A lei da "oferta de mercado" permite aos donos dos colégios "abusar" dos seus funcionários. Isto faz com que os alunos sejam acompanhados durante muito mais tempo que numa escola da rede pública, inseridos em atividades que lhes ocupam o tempo. Isto faz com que haja, de facto, projetos educativos muito interessantes em muitos colégios, é verdade, mas à custa da exploração;

- os colégios são muitas vezes a solução para um cancro altamente metastizado da nossa sociedade: falta de tempo dos pais para estar com os seus filhos. O colégio encarrega-se de os manter mais tempo "na escola";

- Os colégios gozam de algum estatuto. Isto deve-se ao serviço que muitos deles prestaram, com grande qualidade é certo, durante muitos anos, mas também à despromoção da escola pública proporcionada pelo enorme desinvestimento de sucessivos governos: não são os edifícios, construídos por uma empresa de idoneidade duvidosa, que trazem, por si só, uma melhoria na educação: as pessoas que trabalham na educação deveriam ser o maior investimento.

- os colégios usam uma arma que as escolas da rede pública não podem (nem devem) usar: tirar os alunos da sala de aula para estes prepararem atividades e festas, que vão depois encher os olhos dos encarregados de educação. É um sistema de publicidade (pouco) subliminar que as administrações conhecem bem.

- o controlo e a "segurança": quando há casos de violência, consumo de drogas, consumo de álcool, etc, numa escola da rede pública, estes são amplamente divulgados e escrutinados; nos colégios são simplesmente "abafados"! O funcionário é silenciado e o aluno convidado a abandonar o colégio sob ameaça de processo disciplinar, e a matricular-se numa escola da rede pública. Resultado: não há problemas disciplinares nos colégios.

Estes são alguns. Há mais: uns mais óbvios, outros mais subtis.


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Psicogata a 25.05.2016

Finalmente alguém a falar do outro lado da questão.
Eu também não acho que os pais tenham legitimidade para reclamar quando a opção do privado lhes foi dada por falta de oferta um serviço público.
Era agora o que nos faltava exigir do Estado o pagamento das propinas das escolas privadas.
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blogdocaixote a 27.05.2016

Somos muitos a pensar assim. Custa-me que haja pessoas que não compreendam que primeiro há que investir no público.
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RAA a 27.05.2016

Os meus parabéns pelo post. Nem tanto pelo que dizes, que é do mais elementar bom senso, ou pela tua honestidade intelectual, que é sempre de louvar, mas porque a tua postura (e a do teu marido) é rara: grande parte das pessoas, talvez a maioria, só se empenha em assuntos que têm que ver com os seus interesses e não estão disponíveis para analisar cada situação de acordo com o que é mais justo, acertado e ético.
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blogdocaixote a 27.05.2016

Obrigada, RAA. De vez em quando, no meio das baboseiras, sai algo de jeito.
Agora, vamos ver o que o futuro nos traz.

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